MIL MILHAS DE 1970


Interlagos, 24 de novembro de 1970


Mil Milhas.

Duas palavras que soam como música.

Música e corridas.

Em 1970 eu era um guri irresponsável, no bom sentido, preocupado com questões muito relevantes.

Quem era o melhor?

Beatles ou Rolling Stones?

Brahma ou Antarctica?

Ferrari ou Porsche?

Loira ou Morena?

Sem ter a pretensão de solucionar qualquer uma das dúvidas acima, eu apreciava a evidente evolução do nível das nossas corridas de automóvel.

Reparem.

Imaginem uma corrida, em Interlagos, com a presença de uma Ferrari oficial de fábrica.

Estavam presentes, para o nosso delírio, carros do porte de uma Ferrari 512S, ou Alfa Romeo P33, ou Fiat Abarth, ou Alfa Romeo GTA, Lola T70, Porsche 910, Fúria, Casari e Bino.

Trinta anos se passaram e eu tenho a tendência a achar que o automobilismo brasileiro era melhor naquela época.

Saudade da minha adolescência?

Pode ser.

Havia uma atmosfera de renascimento no ar.

Uma corrida como as Mil Milhas provocavam uma sensação agradável, como eu não sinto igual.

Era uma festa.

Mais de 50 carros alinharam para a largada.

A grande estrela da festa era a Ferrari 512S.

Que máquina.

Tinha um motor V12 de 5 litros.

A usina de forca gerava 550 cavalos.

Para conduzir o monstro, vieram dois legítimos italianos, os pilotos Conrado Manfredini e Giampiero Moretti.



Eles chegaram em quinto lugar na prova de Le Mans de 1970.

Os italianos adotaram uma tática conservadora.

Largaram em ritmo suave, poupando o carro.

Depois de algum tempo, passaram a liderar de maneira natural.

A corrida estava controlada, nas mãos de Moretti e Manfredini, até as 5 horas da manha, quando a Ferrari parou nos boxes com sérios problemas de injeção direta.



Os mecânicos levaram 2 horas e 45 minutos para resolver o problema.

Depois de tanto tempo parada, a Ferrari não tinha qualquer possibilidade de vencer a prova.

Mesmo assim, para a felicidade geral da nação, os italianos resolveram botar a Ferrari para correr.

E deram um espetáculo.

Fizeram a Farrari voar na pista.

Bateram várias vezes o recorde oficial de Interlagos.



O público aplaudia cada passagem da magnífica Ferrari 512S.

Outra grande atração das Mil Milhas de 1970 era a lindíssima Lola T70.

O carro, conduzido pela dupla Norman Casari e Jan Balder, fez a proeza de conquistar a posição de honra no grid de largada.

A Lola T70 tinha um motorzao Chevrolet V8 de 5.000cc



Apresentava quatro carburadores duplos Weber, desenvolvia 430 cavalos e pesava 860kg.

Norman Casari largou muito bem, mas logo percebeu que a Lola apresentava vários problemas mecânicos.

A corrida foi breve para a Lola T70 de Casari e Balder, obrigados a abandonar por falhas insolúveis no motor.

Um extraordinária Porsche 910, conduzido por Mário Olivetti e José Moraes, comprovou as suas reconhecidas qualidades.

O Porsche não apresentou qualquer defeito, permitindo que seus pilotos visitassem os boxes apenas para abastecimento e troca de pneus.

Olivetti e Moraes exageraram na dose de prudência.

Andaram menos que o carro.

Eles foram tão conservadores na condução do Porsche, ficando em segundo lugar na prova, quando poderiam ter vencido, se adotassem um ritmo de corrida mais forte.

A Alfa Romeo P33 tinha motor V8 de 2.000cc

Desenvolvia 255 cavalos.

Ela foi conduzida pelos pilotos oficiais da Alfa Romeo, Carlo Facetti e Giovanni Alberti.

Apesar de apresentar alguns problemas mecânicos, a Alfa correspondeu e conquistou o terceiro lugar na corrida.


Entre os pilotos nacionais, destacaram-se o Fúria FNM pilotado, com muita competência, por Jaime Silva e Ugo Galina.


Eles ficaram com um brilhante quinto lugar na corrida.

Também foram dignos de nota o Puma de Paulo Gomes e Sérgio Louzada, bem como o protótipo Casari pilotado pela dupla Renato Peixoto e Carlos Erimá.

A equipe brasileira Jolly-Gância veio com as suas Alfa Romeo GTA.

São carros extremamente competitivos em provas de longa duração.

Apesar de atingirem apenas 230 km/h de velocidade máxima, contra 270 km/h do Porsche e 300 km/h da Ferrari, destacavam-se por suas características de grande resistência a condições adversas de pista e exigências severas de motor.

Os irmãos Alcides e Abilio Diniz importaram, especialmente para as Mil Milhas, a novíssima versão GTAm.



O carro comprovou que é perfeitamente adaptado as características de uma corrida como as Mil Milhas.

Vejam só.

Alcides Diniz completou a primeira volta na 21a posição.

Três horas depois, já com Abilio Diniz ao volante, a Alfa GTAm estava em quinto lugar.

Depois de 12 horas e 50 minutos, Abilio e Alcides Diniz venceram as Mil Milhas com 3 voltas de vantagem sobre o segundo lugar.

A classificação final foi a seguinte:

  1. Abilio Diniz e Alcides Diniz – Alfa Romeo GTAm

  2. Mário Olivetti e José Moraes – Porsche 910

  3. Carlo Facetti e Giovanni Alberti – Alfa Romeo P33

  4. Piero Gância e José Renato Catapani – Alfa Romeo GTA

  5. Jaime Silva e Ugo Galina – Fúria FNM

  6. Paulo Gomes e Sérgio Louzada – Puma

  7. Graziela Fernandes e Carlos Alberto Sgarbi – Alfa Romeo GTA

  8. Renato Peixoto e Carlos Erimá – Casari A2

  9. Nathaniel Townsend e Anésio Fernandes – Volks 2000

  10. Norman Casari e Jan Balder – Lola T70


Campinas, 28 de dezembro de 2001


Claudio Medaglia



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