GRANDE PRÊMIO INTERNACIONAL DE TARUMA


Tarumã, 30 de maio de 1971



Meninos, eu vi.

Eu estava lá.

Foi uma prova histórica.

Pela primeira vez, de forma oficial e regular, brasileiros e argentinos disputariam um campeonato específico.

O calendário do torneio sul-americano, também chamado Sudam, previa a primeira etapa em Tarumã.

A data escolhida foi a pior possível.

Uma corrida com tantos atrativos, pasmem, foi marcada para as 10 horas da manha, para não concorrer com o GRENAL, no Beira Rio, as 16 horas.

Mesmo assim, 25.000 pessoas foram ao autódromo.

Eu era uma delas, repito, feliz da vida.

Outra bobagem monumental, na escolha da data, foi desconsiderar que, no mesmo dia, na Argentina, seria disputada a tradicional 500 milhas de Rafaela.

O resultado foi o comparecimento de apenas dois medianos pilotos argentinos.

Um dos carros argentinos era um Berta Tornado.

Era um protótipo com motor dianteiro de 4 litros.



Seu condutor era Jorge Juan Ternengo, terceiro colocado na Divisão 6 do campeonato argentino.

O outro carro argentino era um Vounta Tornado.

Tratava-se de um protótipo com motor traseiro entre eixos.



O piloto era Ruben Alonso, considerado a maior revelação argentina na categoria esporte protótipo.

Vamos dar uma olhada nos carros dos brasileiros.

José Renato Catapani, o Tite Catapani, pilotava uma fantástica Lola T210.

Era o mesmo carro que Emerson Fittipaldi tinha usado na Copa Brasil do ano anterior.

Antônio Carlos Avallone conduzia uma Lola T70.

A equipe Brahma, de Norman Casari, inscreveu dois belos carros.

Norman Casari pilotaria uma Lola T70.

Jan Balder era o piloto do protótipo Casari A1, um lindo carro construído pelo próprio Norman Casari.



A decoração dos carros da Equipe Brahma foi bolada por um publicitário uruguaio, filho de irlandeses, radicado no Rio de Janeiro, chamado Eddie Moyna.

Muitos anos depois, para a minha satisfação, fiquei amigo de um grande cara, o Carlos Henrique Moyna, filho dele.

Pedro Victor de Lamare estava presente com o seu protótipo Fúria.

O Fúria era uma carro de linhas muito bonitas, equipado com motor Chevrolet de 2,5 litros.

Os carros de Pedro Victor, tradicionalmente azuis, eram pintados com extremo bom gosto.

A corrida foi disputada em duas baterias de 1 hora cada.

Primeira bateria.

Os carros alinharam.

Todos os olhos voltavam-se para os carros argentinos.

Qual seria o desempenho deles?

Largaram.

Tite Catapani, com a Lola T210, saltou na frente.

O argentino Ternengo, com o Berta Tornado, fez uma ótima largada e conquistou o segundo lugar.

A terceira posição era disputada pôr Antônio Carlos Avallone, Norman Casari e Jan Balder.

O sexto colocado era o argentino Alonso.

O sétimo, Pedro Victor de Lamare.

Trinta voltas depois, Tite Catapani era um líder folgado.

A tranqüilidade dele aumentou quando o argentino Ternengo abandonou a corrida.

O Berta Tornado teve uma cruzeta quebrada.

Pedro Victor de Lamare ultrapassou o argentino Alonso, iniciando uma irresistível conquista de posições.



A Lola de Antônio Carlos Avallone apresentava falhas no motor e foi ultrapassada pelo Fúria de Pedro Victor e pelo argentino Alonso.

A próxima vítima seria Norman Casari.

A Lola T70 apresentava o mesmo problema que afligia Avallone e foi várias vezes para os boxes.

Por fim, De Lamare e Alonso ultrapassaram Jan Balder.

A primeira bateria foi vencida, com tranqüilidade, por Tite Catapani.

A classificação foi a seguinte:

  1. José Renato Catapani = Lola T210

  2. Pedro Victor De Lamare = Fúria Chevrolet

  3. Ruben Alonso = Vounta Tornado

  4. Antônio Carlos Avallone = Lola T70

  5. Jan Balder = Casari A1

  6. Breno Fornari = Protótipo Regente

  7. Jorge Juan Ternengo = Berta Tornado

  8. José Pedro Chateaubriand = Puma 2000

  9. Dino de Leoni = Protótipo Aragano

  10. Luiz Moura Britto = Protótipo VW 1.600

Intervalo.

Tempo para tomar uma cerveja na churrascaria Tala Larga, que fica dentro do autódromo.

Segunda bateria.

A largada para a segunda bateria obedeceu a classificação da primeira.

Largaram.



Tite Catapani, com problemas na embreagem, foi obrigado a largar em quarta marcha.

O resultado foi a ultrapassagem simultânea de Avallone e Ternengo.

Pedro Victor De Lamare largou muito mal e perdeu várias posições.



A liderança era da Lola T70 de Antônio Carlos Avallone.

Em segundo lugar, encontramos o Berta Tornado de Jorge Juan Ternengo.

Na Quinta volta, andando apenas em quarta marcha, Tite Catapani ultrapassou Ternengo e assumiu o segundo lugar.

Uma volta depois, Catapani passou por Avallone.



A Lola T210 de Tite Catapani voltava a liderar a corrida.

Outra vez, a vida de Catapani foi facilitada pelos problemas mecânicos dos seus perseguidores.

O primeiro a abandonar a prova foi Antônio Carlos Avallone, com problemas elétricos na sua Lola.

Em seguida, foi a vez do Berta Tornado de Ternengo apresentar falhas no motor e sair da corrida.

Norman Casari e Ruben Alonso faziam uma corrida cautelosa e subiam na classificação.

Destaque-se a performance de Fernando Esbroglio, um notável piloto gaúcho que, na Segunda bateria, correu com o Puma 2000 de José Pedro Chateaubriand.

Dava gosto ver aquele Puminha dividindo curvas com os grandes protótipos.

Tite Catapani venceu, com folga, a segunda bateria.

A classificação da segunda bateria foi a seguinte:

  1. José Renato Catapani = Lola T210

  2. Norman Casari = Lola T70

  3. Fernando Esbróglio = Puma 2000

  4. Ruben Alonso = Vounta Tornado

  5. Jan Balder = Casari A1

  6. Pedro Victor De Lamare = Fúria Chevrolet

  7. Breno Fornari = Protótipo Regente

  8. Dino de Leoni = Protótipo Aragano

  9. Jorge Juan Ternengo = Berta Tornado

  10. Antônio Carlos Avallone = Lola T70

A classificação geral foi obtida pela soma dos tempos das duas baterias.

Ficou assim.

  1. José Renato Catapani = Lola T210

  2. Ruben Alonso = Vounta Tornado

  3. Pedro Victor De Lamare = Fúria Chevrolet

  4. Jan Balder = Casari A1

  5. Breno Fornari = Protótipo Regente

  6. José Pedro Chateaubriand e Fernando Esbroglio = Puma 2000

  7. Antônio Carlos Avallone = Lola T70

  8. Dino de Leoni = Protótipo Aragano

  9. Jorge Juan Ternengo = Berta Tornado

  10. Norman Casari = Lola T70

As próximas corridas prometiam bastante.

Os argentinos viriam com forca total.

Pretendo, também, escrever sobre elas.

Aguardem.


Campinas, 14 de dezembro de 2001


Claudio Medaglia





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