GP TARUMÃ DE TURISMO 2a ETAPA 1972
Tarumã, 27 de agosto de 1972
São 10 horas da manha do dia 1o de janeiro de 2002.
A cidade dorme.
As minhas filhas dormem.
Minha mãe, recuperando-se muito bem, também dorme.
Minha mulher e eu, apesar da ressaca, acordamos cedo.
Estou preparando um churrasco.
Já fiz o fogo.
As carnes, devidamente espetadas, estão na churrasqueira.
Fogo lento.
Com calma.
Ninguém tem pressa.
Aproveito a calma e escrevo o primeiro artigo do ano.
Resolvo homenagear um dos meus ídolos de adolescência.
O personagem do meu texto será o piloto Pedro Carneiro Pereira.
Meus esportes preferidos, sempre foram, pela ordem, automobilismo e futebol.
Os do Pedro Carneiro Pereira, também.
Advogado e jornalista, Pedro era o locutor oficial do departamento de esportes da Rádio Guaíba.
Ele narrava os jogos de futebol.
E, que narrador, meus amigos.
Voz clara. Dicção perfeita. Ritmo e estilo.
Principalmente, estilo.
Ninguém narrava um jogo de futebol como ele.
Até hoje.
No Brasil inteiro.
A lamentar, apenas, a duração do grito de gol do Grêmio, sempre alguns segundos mais longo que os gols do Internacional.
Mesmo assim, a grande paixão de Pedro Carneiro Pereira sempre foi o automobilismo.
Pedro resolveu investir na paixão.
Depois da inauguração de Tarumã, ele comprou um Opala e começou a participar mais ativamente das corridas.
O carro era pouco competitivo e, em conseqüência, Pedro levava surras homéricas do outro Pedro, o De Lamare.
Pedro Victor De Lamare era um craque.
Além de extraordinário piloto, sempre tinha a mão um equipamento de primeira.
Todos os carros de Pedro Victor De Lamare eram equipados com a melhor tecnologia disponível.
E eram lindos.
Sempre brilhando.
Pedro Carneiro Pereira cansou de levar cacete de Pedro Victor De Lamare.
Comprou um Opala dos irmãos Nilson e Bird Clemente.
Era um carro competitivo.
A briga ficaria parelha.
Pedro Carneiro Pereira começou a tirar segundo lugar nas corridas em que Pedro Victor participava.
Nas outras corridas, Pedro Carneiro Pereira começou a vencer.
O carro, um Opala branco, número 22, ficava cada vez melhor ajustado.
E, Pedro Carneiro Pereira pilotava cada vez melhor.
O dia da vitória de Pedro Carneiro Pereira sobre Pedro Victor De Lamare estava por chegar.
Era inevitável.
O dia chegou.
Estávamos em agosto e, para variar, chovia.
A corrida valia para o campeonato brasileiro e, com esse status, trouxe vários pilotos paulistas e cariocas de primeira linha.
Destacavam-se, entre outros, Luiz Pereira Bueno, Pedro Victor De Lamare , José Pedro Chateaubriand e Antônio Carlos Avallone.
A organização da prova resolveu fazer a etapa dividida em duas corridas distintas.
Cada corrida teria duas baterias.
A primeira corrida era para carros com até 1.600 cc
Leonel Friedrich, um notável piloto gaúcho, corria com o VW número 43.
Ele fez a pole position com o ótimo tempo de 1m22s63
Leonel largou na frente e venceu a primeira bateria de ponta-a-ponta.
O segundo colocado foi Lino Reginatto.
Jan Balder chegou em terceiro lugar.
A largada da segunda bateria obedeceu a ordem de chegada da anterior.
Leonel, perfeito, manteve a liderança, andando muito rápido.
O piloto gaúcho não deu chance a ninguém e venceu a segunda bateria.
Jan Balder foi o segundo colocado.
Em terceiro, chegou o piloto gaúcho Arnaldo Fossá.
A classificação final da Categoria A, somando as duas baterias, ficou sendo a seguinte:
1 Leonel Friedrich VW
2 Jan Balder VW
3 Lino Reginatto VW
4 Arnaldo Fossá VW
5 Joel Antônio Echel VW
6 Paulo Roberto Bossoni VW
7 Joao Luiz Palmeiro VW
8 Antônio Alceu Ribeiro Corcel
9 Emílio Estácio Boeckel VW
10 Ervino Einsfeld Corcel
Vamos para o prato principal.
A segunda corrida agrupava os carros das classes B e C.
A classe B era para carros de 1.601 a 3.000 cc
Na classe C ficavam os carros acima de 3.000 cc
Primeira bateria.
Largaram.
Pedro Carneiro Pereira largou muito bem e manteve a ponta.
Um dos favoritos, Luiz Pereira Bueno, com o Opala número 11 da equipe Hollywood, andava devagar.
O Opala de Luizinho apresentava problemas mecânicos.
Pedro Carneiro Pereira fazia uma corrida perfeita.
Apesar da chuva.
Não houve nenhuma possibilidade de Pedro Victor De Lamare acompanhar o ritmo de Pedro Carneiro Pereira.
Pedro Pereira venceu.
A primeira bateria terminou assim:
1 Pedro Carneiro Pereira Opala
2 Pedro Victor De Lamare Opala
3 Antônio Jorge Salim Filho Opala
4 Antônio Carlos Avallone Opala
5 Luiz Pereira Bueno Opala
6 Voltaire de Castilhos Opala
A Segunda bateria.
A largada para a segunda bateria foi feita com a ordem de chegada na bateria anterior.
Pedro Carneiro Pereira manteve a ponta.
O adversário, Pedro Victor de Lamare, grudou no piloto gaúcho.
A segunda bateria não seria moleza.
Os dois pilotos chegaram a andar, por alguns momentos, lado a lado.
Chovia.
Com a pista molhada, para a alegria do público gaúcho, Pedro Carneiro Pereira revelou-se um verdadeiro pato.
Ele pilotava, na chuva, com incrível habilidade.
Pedro Victor aguardava um erro do Pedro Carneiro Pereira.
Em vão.
Não houve erro.
Não houve falha.
Pedro Carneiro Pereira venceu a segunda bateria.
O resultado da 2a bateria Classe B foi o seguinte:
1 José Pedro Chateaubriand FNM 2150
2 José Paulo Chies FNM 2150
A classificação final da classe B foi a seguinte:
1 José Pedro Chateaubriand FNM 2150
2 José Paulo Chies FNM 2150
3 Afonso Iglesias Opala 2500
O resultado da 2a bateria Classe C foi o seguinte:
1 Pedro Carneiro Pereira Opala
2 Pedro Victor De Lamare Opala
3 Antônio Carlos Avalone Opala
4 Voltaire de Castilhos Opala
5 Antônio Jorge Salin Filho Opala
6 Luiz Pereira Bueno Opala
A classificação final da classe C foi a seguinte:
1 Pedro Carneiro Pereira Opala
2 Pedro Victor De Lamare Opala
3 Antônio Carlos Avalone Opala
4 Antônio Jorge Salin Filho Opala
5 Voltaire de Castilhos Opala
6 Luiz Pereira Bueno Opala
Pedro Carneiro Pereira venceu Pedro Victor De Lamare.
Foi a vitória de um craque.
Ele era um ótimo jornalista.
Um notável piloto.
E, acima de tudo, era gente boa.
Campinas, 1o de janeiro de 2002
Claudio Medaglia