GRANDE PRÊMIO DOS ESTADOS UNIDOS DE 1970


Watkins Glen, 4 de outubro de 1970.

Jochen Rindt tinha morrido em Monza.

O clima na Lotus era terrível.

Os jornais da Europa escreviam barbaridades sobre Colin Chapman, acusando-o de responsável pela morte de Rindt.

John Miles, o segundo piloto, desistiu da equipe e foi embora.

A Lotus contratou o sueco Reine Wisell.

A imprensa italiana escreveu, na época, que o sueco seria o primeiro piloto, enquanto o brasileiro ficaria com o segundo carro.

Chapman desmentiu a imprensa e declarou que Emerson era o primeiro piloto.

Os treinos.


Jacky Ickx, com Ferrari, foi o pole.

A outra Ferrari, de Clay Regazzoni, ficou em 6o lugar.

Stewart, com Tyrrell, ficou com a Segunda posição.

Emerson Fittipaldi obteve o terceiro tempo.

Seu companheiro de equipe, Reine Wisell, ficou com a nona colocação.

A corrida.

O Domingo amanheceu com chuva.

E frio.

A pista estava enlameada pelos sapatos dos espectadores que atravessavam de um lado para outro.

Uma bagunça.

O sol apareceu ao meio dia, transformando a lama em poeira.

A organização da prova determinou que seriam seis voltas de apresentação para limpar um pouco a pista.

Não adiantou nada.

Largaram.

Ickx patinou na poeira e trancou a largada de Emerson.

A outra fila, largando na parte limpa da pista, disparou na frente.


Stewart liderava.

Emerson completou a primeira volta em oitavo lugar.

Iniciaram a segunda volta com Stewart disparado na frente, seguido por Regazzoni, Rodriguez, Ickx, Oliver, Amon, Surtees e Emerson.

Na terceira volta, Ickx assumiu a terceira colocação ao ultrapassar Pedro Rodriguez.

Emerson iniciou a sua recuperação.

Passou por Surtees e ficou em sétimo.

Quatro voltas depois, conquistou a 6a colocação ao suplantar Amon.

Mais algumas voltas e Emerson passou pôr Jack Oliver.

Stewart liderava.

Regazzoni era o segundo, Ickx o terceiro, Rodriguez o quarto e Emerson vinha em quinto.

As colocações ficaram inalteradas pôr muitas voltas.

Até que a Ferrari de Clay Regazzoni parou nos boxes com problemas no motor, voltando depois de perder cinco voltas.


Emerson ficou em quarto lugar.

Jacky Ickx foi para os boxes trocar um pneu furado.

Emerson herdou o terceiro lugar.

Jackie Stewart voava.

O escocês estava andando tão rápido que chegou em Emerson.

Stewart ultrapassou Fittipaldi como um foguete, colocando uma volta no brasileiro.

Emerson chegou a ver uma fumaça branca saindo do escapamento do Tyrrell.

Batata.

O motor do carro de Stewart abriu o bico.

Fim de corrida para ele.

Incrível.

Emerson Fittipaldi estava em segundo.

O pessoal da Lotus, na maior festa, mostrava, freneticamente, a placa com a inscricao P2.

Pedro Rodriguez, com o seu BRM, liderava com meia volta de vantagem.

O sueco Reine Wisell, fazendo sua primeira corrida para a Lotus, vinha demonstrando um belo desempenho.

Ele estava em um confortável terceiro lugar, uma volta a frente de Ickx.

A corrida estava chegando ao seu final.

Faltavam 8 voltas.



De repente, o líder Pedro Rodriguez para nos boxes para colocar um pouco de gasolina.

Emerson, sem saber de nada, passa pelos boxes e recebe a placa P1.

Ele não acreditou.

Uma volta depois, lá estava a placa confirmando:

P 1

Rodriguez P 2

Emerson Fittipaldi estava ganhando o Grande Prêmio dos Estados Unidos.

Era uma corrida longa.

A pista curta de Watkins Glen exigia intermináveis 108 voltas para completar a corrida.

Os problemas de consumo de combustível eram comuns.

Pedro Rodriguez foi uma das vítimas da falta de gasolina.

Emerson, na liderança da corrida, alternava momentos de euforia e preocupação.

O fantasma da falta de gasolina começou a passar pela cabeça de Emerson.

Quatro voltas para o final.


Emerson, normalmente um piloto cauteloso, corria com extremo cuidado.

As curvas eram contornadas em baixa velocidade.

Três voltas.

Os retardatários só eram ultrapassados na reta.

Na boa.

Duas voltas.

Os mecânicos da Lotus abandonaram os boxes e foram para a mureta da reta de chegada.

Uma volta.

Emerson encontrou mais um retardatário pela frente.

A preocupação era tanta que Emerson resolveu não fazer a ultrapassagem.

Percorreu a última volta atras dele.

Na última curva antes da chegada Emerson tirou o pé.

Contornou a curva bem devagar.

No meio da pista.

Emerson respirou fundo e acelerou.

Cruzou a linha de chegada.

Ele viu a bandeira quadriculada e o boné branco de Chapman voando.

O gesto de Colin Chapman, imortalizado nas vitórias de Jim Clark, era dirigido para Emerson Fittipaldi.


Emerson dedicou a vitória a Jochen Rindt.

Não precisava.

Com ela, Rindt era, matematicamente, o campeão.

Foi, na minha opinião, a vitória mais importante do automobilismo brasileiro.

Depois dela, uma belíssima história seria escrita.

Campinas, 29 de outubro de 2001

Claudio Medaglia






Free Web Hosting