GRANDE PRÊMIO DA ARGENTINA DE 1972


Buenos Aires, 23 de janeiro de 1972



O Grande Prêmio da Argentina de 1972 abria a temporada da fórmula 1.

Depois de muito tempo, a fórmula 1 voltava a Buenos Aires.

E isso era motivo de festa.

E casa cheia.

Os argentinos lotaram o autódromo, com a grande ajuda de torcedores brasileiros.

Dezenas de ônibus fretados, e alguns aviões, partiram de Porto Alegre.

A gauchada sempre gostou de automobilismo.

Uma novidade logo chamava a atenção.


Era a nova pintura da Lotus, agora toda preta com filetes dourados e novo patrocinador.



Muitos não gostaram.

Diziam que o piloto poderia, em caso de acidente fatal, ser enterrado dentro do carro, pois a pintura lembrava um caixão de defunto.

Com o tempo, como sempre acontece, todos passaram a gostar da pintura.

Os treinos.

Foram três dias de treinos, o que permitia a pilotos e equipes, melhor adaptação ao novo circuito.

A quinta feira foi dedicada a acertos de relações de marchas.

Na sexta-feira, Jacky Ickx, com a Ferrari 312 B2 conseguiu o melhor tempo, cravando 1m13s.57

Emerson fez o sexto tempo 1m14s58

Chegou o Sábado.

As equipes e os pilotos botaram pra quebrar e os tempos foram pulverizados.


Para a suprema alegria dos argentinos, um surpreendente Carlos Reutemann conseguiu a posição de honra.



Pilotando um Brabham BT 34, Reutemann fez o extraordinário tempo de 1m12s46

O campeão Jackie Stewart apresentou armas e fez o segundo melhor tempo com 1m12s68

A equipe McLaren conquistou a terceira colocação no grid. com Peter Revson e o quarto posto, com Dennis Hulme.

Emerson Fittipaldi ficou em quinto lugar, com o tempo de 1m13s28

A Ferrari não demonstrou muita forca.


Fez um treino discreto.


Clay Regazzoni ficou com o sexto tempo e o seu companheiro de time, Jacky Ickx foi o oitavo.

Uma terceira Ferrari, pilotada por Mário Andretti, classificou-se em 9o lugar.

Intrometendo-se entre as Ferrari, classificou-se Francois Cevert, com a outra Tyrrell.

A equipe March foi com três carros para a Argentina.

Os pilotos eram Ronnie Peterson, Henri Pescarollo e Niki Lauda.

Tim Schenken conseguiu classificar o seu Surtees em 11o lugar.

Ele ficou a frente do outro carro da equipe, pilotado por Andrea De Adamich, classificado em 14o lugar.

A corrida.

Colin Chapman, três minutos antes da corrida começar, parou junto ao carro de Emerson e lhe deu um puxão de orelhas, lembrando as péssimas largadas do brasileiro.

A bronca funcionou.

Largaram.

Carlos Reutemann manteve a ponta.

O argentino iria liderar por pouco tempo, com Stewart grudado em sua traseira.

E Emerson Fittipaldi, quem diria, fez uma excelente largada.

Saltou na frente de Revson, colocando-se em quarto lugar, logo atras de Hulme.

Na segunda volta, como era de se esperar, Stewart ultrapassou Reutemann.

Pouco a pouco, Stewart e Reutemann foram abrindo distância para Dennis Hulme.



Emerson precisava atacar Hulme.

E atacou.

Na freada para a curva 1 Emerson ultrapassou Hulme e assumiu a terceira colocação.

A tarefa era chegar em Stewart e Reutemann, lá na frente.

Emerson chegou.

O brasileiro encostou em Reutemann.

O argentino, tentando se livrar de Emerson, encostou em Stewart.

Era um trenzinho.

Stewart, Reutemann e Emerson.

Um grudado no outro.

O trenzinho estava aumentando.

Dennis Hulme, correndo uma barbaridade, chegou no grupo.

Emerson, tentando escapar da ameaça de Hulme, partiu para cima de Reutemann.

Na curva 1, de forma espetacular, Emerson passou por Reutemann.



Em segundo lugar, criando moral, o brasileiro partiu em perseguição a Stewart, o líder.

Enquanto Emerson encurtava a distância para Stewart, Dennis Hulme ultrapassava Reutemann.

O velho urso estava fazendo uma baita corrida.

Emerson, também.

As primeiras posições eram ocupadas, pela ordem, por Stewart, Emerson, Hulme e Reutemann.

Emerson estava feliz da vida com o fato de conseguir acompanhar um piloto do quilate de um Stewart.

Stewart, por sua vez, estava muito preocupado com o aparecimento de um brasileiro atrevido, capaz de acompanhar o seu ritmo de corrida.

Stewart olhava mais para os espelhos retrovisores do que para a frente.

Emerson percebeu e iniciou um jogo de gato-e-rato.

Por várias voltas, Emerson ameaçou passar em lugares impossíveis, provocando a reação defensiva de Stewart.

Era uma beleza acompanhar a disputa entre dois competidores providos de tanta classe e talento.

Entretanto......

Mas......

Não há bem que sempre dure.

Emerson começou a enfrentar problemas no câmbio.

A quarta marcha começou a escapar, obrigando o brasileiro a ficar segurando a alavanca de câmbio com a mão direita.


Stewart, com extraordinária sensibilidade, percebeu que Emerson não investia com tanta fúria.


Concentrou-se ao máximo, fazendo várias voltas no limite, ganhando distância.

Para piorar a situação, Hulme diminuiu muito a diferença para Emerson.

O intervalo entre os dois caiu para quatro segundos.

Stewart, impecável, abria cinco segundos de Emerson.

Dennis Hulme engoliu os quatro segundos e chegou em Emerson.

A quarta marcha do Lotus 72 parou de entrar, obrigando Emerson passar de terceira para quinta.


Emerson ainda segurou Hulme por algumas voltas.


Enfim, Hulme ultrapassou Emerson na frente dos boxes.

Francois Cevert ultrapassou Carlos Reutemann e assumiu o quarto lugar.

A diferença de Emerson para Cevert era de trinta segundos.

Em circunstâncias normais, seria uma distância confortável.

Muitas voltas depois, a diferença caia para preocupantes 17 segundos.

Mas aí, por ironia do destino, o câmbio da Tyrrell de Cevert quebrou, provocando o seu abandono.

Emerson respirou aliviado.

O quarto colocado passou a ser Jacky Ickx, quarenta segundos atrás.


A corrida estava chegando a sua parte final.


Seria muito difícil, Ickx recuperar tanto tempo.

De repente, Emerson parou.

A corrida de Emerson chegou ao fim graças a um problema mecânico muito sério no Lotus 72.

A suspensão traseira tinha quebrado.

Um defeito crônico.

Jackie Stewart estava em forma.



Venceu a corrida e mostrou que suas qualidades de piloto estavam intactas e reluzentes.

A classificação final do Grande Prêmio da Argentina de 1972 foi a seguinte:

1 – Jackie Stewart – Tyrrell

2 – Dennis Hulme – McLaren

3 – Jacky Ickx – Ferrari

4 – Clay Regazzoni – Ferrari

5 – Tim Schenken – Surtees

6 – Ronnie Peterson – March


Campinas, 29 de dezembro de 2001


Claudio Medaglia







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