Jarama, 1 de maio de 1972
O Grande Prêmio da Espanha foi a terceira etapa do campeonato de 1972.
Antes dele, tivemos as corridas da Argentina e da África do Sul, com vitórias de Stewart e Hulme, respectivamente.
Curiosamente, a corrida foi marcada para segunda-feira, um feriado.
Os treinos oficiais, portanto, seriam sábado e domingo.
Os treinos.
Jacky Ickx, pilotando a Ferrari 312B2, fez uma volta extraordinária e conquistou a pole position
Ickx e a Ferrari estavam em grande forma.
Quase um segundo mais lento que Ickx, Dennis Hulme, conduzindo um McLaren M19A, obteve a segunda posição no grid.
Emerson Fittipaldi, com o Lotus 72D, conseguiu o terceiro tempo.
O bi campeão Jackie Stewart ficou com a quarta colocação.
Mario Andretti, ao volante de uma Ferrari 312B2, conquistou a quinta posição.
E uma terceira Ferrari ( eu não bebi. Havia uma terceira Ferrari correndo no GP da Espanha ), pilotada por Clay Regazzoni, conseguiu a oitava posição.
Wilson Fittipaldi, com Brabham BT 33, ficou com o 14o lugar.
Jose Carlos Pace, com March 711, obteve a 16a posição.
Ocupando a última posição no grid de largada, observamos a presença de um jovem austríaco chamado Niki Lauda, ao volante de um March.
O dia da corrida.
Manha de segunda-feira.
Garoa.
Ickx escolheu pneus intermediários.
Todos os outros correram com slick.
Trinta minutos antes da largada, os pilotos conduziram os carros para o Grid.
No caminho, Emerson sentiu as costas úmidas e em seguida tudo ardia.
O carro tinha um vazamento de gasolina.
No grid, os mecânicos descobriram o vazamento no tanque suplementar de gasolina.
Colin Chapman, baseado nos cálculos de Peter Warr, o chefe da equipe, ordenou o esvaziamento do tanque suplementar.
O tanque tinha capacidade para 10 litros.
Emerson Fittipaldi e Colin Chapman combinaram que a economia de combustível seria posta em prática apenas nas dez últimas voltas.
Tudo resolvido.
Largaram.
Dennis Hulme largou melhor e pulou na frente.
Jackie Stewart, sensacional, passou por Emerson e Ickx, assumindo a segunda posição.
Os primeiros lugares eram ocupados por Hulme, Stewart, Ickx e Emerson.
Chegaram na primeira curva e Emerson preparou-se para ultrapassar Ickx, quando, saindo do nada, apareceu Clay Regazzoni.
Com duas rodas na grama, dando um chega-prá-lá em Emerson, Regazzoni assumiu a quinta colocação.
Lá na rabeira, José Carlos Pace tinha ultrapassado três carros na primeira volta.
Em seguida, Emerson iniciou a sua recuperação, ultrapassando Regazzoni no final da reta.
Enquanto isso, Stewart passava Hulme e era o novo líder.
Mais uma volta e Emerson leva um grande susto.
Houve um estouro dentro do Lotus.
O extintor de incêndio explodiu gelando as pernas do brasileiro.
Passou o susto.
Emerson não perdeu o controle do carro e manteve a posição.
A corrida completava a sua sétima volta e Emerson estava muito rápido.
Em manobras sensacionais, ele passou Ickx e Hulme na mesma volta.
Hulme, com dificuldades para trocar marchas, perdia rendimento, sendo ultrapassado por Ickx.
O objetivo de Fittipaldi passou a ser o líder Stewart.
Andando muito próximos, Stewart, Emerson, Ickx e Hulme percorreram várias voltas nessa formação.
Niki Lauda, com problemas no diferencial do seu March, abandonou a corrida.
No pelotão intermediário, Wilson Fittipaldi liderava um grupo composto ainda por Rolf Stommelen, Henri Pescarollo e José Carlos Pace.
O piloto alemão Rolf Stommelen pilotava um inacreditável Eifelland.
Tratava-se de um March modificado, cuja principal característica era uma espécie de periscópio, fazendo a função de espelho retrovisor.
Stommelen estava segurando todo mundo.
O carro perdia rendimento e ele não deixava ninguém passar.
Stommelen fechava todas as portas.
Na 15a volta, Stommelen errou, bateu e abandonou.
Uma volta depois, José Carlos Pace ultrapassou Pescarollo e assumiu a 13a posição.
Lá na frente, Emerson voando na pista, ultrapassou Stewart e conquistou a liderança da prova.
Em pouco tempo, Emerson conseguiu aumentar a distancia para Stewart.
A diferença entre eles passava dos cinco segundos.
Jacky Ickx, em manobra ousada, ultrapassou Stewart e ficou em segundo lugar.
A distância entre Emerson e Ickx era de sete segundos.
Na 30a volta a garoa voltou.
E aumentava.
Jacky Ickx ficou feliz.
Com pneus intermediários calcando a sua Ferrari, Ickx zerou a diferença em apenas duas voltas.
O belga, em grande forma, babava em busca da liderança.
A Ferrari grudou na Lotus.
Ickx tentava pela esquerda. Emerson fechava.
Tentava pela direita. Não dava.
Pegava vácuo. Emerson fazia zigue-zague.
A Ferrari estava muito mais equilibrada, graças aos pneus intermediários.
A luta durou seis voltas.
Quando a ultrapassagem parecia inevitável, parou de chover.
Foi a vez de Emerson Fittipaldi ficar feliz.
A estrela de Emerson voltava a brilhar.
O sol também.
À medida que a pista secava, a diferença subia.
Em poucas voltas, Emerson abria dez segundos para Ickx.
Dennis Hulme abandonou a corrida com a caixa de câmbio quebrada.
Jackie Stewart saiu da pista e abandonou.
Jose Carlos Pace, aproveitando um erro de Wilsinho, passou por ele.
Pace ainda teve a presença de espírito de brincar com Wilson Fittipaldi e mandou um adeusinho.
Faltavam quinze voltas para o final da corrida e o box da Lotus informava uma vantagem de 22 segundos em relação a Jacky Ickx.
Suspense.
Emerson precisava administrar o consumo de combustível, sem entretanto, permitir a aproximação da Ferrari.
Naquelas voltas ficou evidente a grande qualidade de pilotagem refinada de Emerson Fittipaldi.
Ele conseguia andar rápido e poupar o equipamento.
Redondo.
Não errava marchas.
Não elevava o giro do motor em vão.
Freava na hora certa.
Não derrapava.
O resultado de tudo isso era uma notável economia de equipamento e combustível.
Chegaram a última volta.
A diferença tinha caído para vinte segundos.
Emerson perdeu apenas 2 segundos.
A última curva antes da reta de chegada era um cotovelo em subida.
Logo depois a reta, em declive.
O brasileiro contornou o cotovelo com o coração na boca, imaginando ficar sem combustível.
Quando iniciou a reta, em descida, ficou aliviado.
Ele poderia cruzar a linha final no embalo.
Não foi preciso.
Não faltou gasolina.
José Carlos Pace já tinha ultrapassado Tim Schenken e estava no sexto lugar.
Wilsinho em sétimo.
Pace grudou em Peter Revson.
Tentava a ultrapassagem de todas as formas.
Não conseguia.
Revson e Pace, andando muito forte, chegaram no detentor do quarto lugar, Andréa de Adamich.
O italiano não deu moleza.
Fechou as portas e não deu colher para ninguém.
Os três cruzaram a linha de chegada praticamente juntos.
Foi o primeiro ponto de Jose Carlos Pace no mundial de 1972.
Emerson venceu. Ickx foi segundo. Regazzoni o terceiro. De Adamich o quarto. Revson o quinto e Pace o sexto.
Campinas, 29 de junho de 2001
Cláudio Medaglia