GRANDE PREMIO DE MONACO DE 1978


Monte Carlo, 07 de maio de 1978


Eu tinha sido transferido para Passo Fundo onde, pela primeira vez, moraria sozinho.

Minha mãe e meu irmão ficaram em Porto Alegre.

Muito trabalho e muita festa.

Chegou o mês de maio. Com ele, o frio.

Em Monte Carlo a temperatura era mais amena.

Grandes novidades em Mônaco.

Aproveitando o ambiente de festa e a publicidade do Grande Premio, várias equipes mostraram as atualizações dos seus carros.

Estavam lá os novíssimos Lótus 79, o Ligier JS9, o Wolf WR5 e o Shadow

DN9.

Nenhum deles andou satisfatoriamente nos treinos livres, razão pela qual foram mantidos os modelos anteriores.

Tivemos o retorno de Jacky Ickx a Fórmula 1, a bordo de um velho Ensign N177.

Villeneuve corria pela primeira vez em Mônaco.

Carlos Reutemann, com uma Ferrari, fez a pole.

Os dois pilotos da Brabham, John Watson e Niki Lauda, ficaram com a segunda e a terceira posições na largada.

O restante do grid ficou assim:

Mario Andretti ( Lotus ), Depailler ( Tyrrell ), Hunt ( McLaren ), Peterson ( Lótus ), Villeneuve ( Ferrari ), Scheckter ( Wolf ), Jones (Williams),etc.etc.

Era uma turma de feras.

A disputa por uma posição no grid de largada tinha ainda um complicador adicional. Naquela época largavam vinte carros e eram 30 os inscritos. Os pilotos tinham que se qualificar.

Emerson Fittipaldi brigou, lutou, correu, treinou e finalmente, depois de muito trabalho, conseguiu a última posição no grid. Pilotos do porte de Mass, Ragazzoni, Jarier e Brambilla, não conseguiram classificação.

A corrida prometia muito. Eu não perderia aquela corrida por nada.

Sábado à noite em Passo Fundo. Muito frio. Cinco graus.

Eu tinha um fusca branco. Saí para dar uma paquerada nas gurias de Passo Fundo. É uma terra de mulher bonita.

Não consegui nada. Não comi ninguém. Voltei para casa e fui dormir.

Pelo menos, no outro dia, tinha o GP de Mônaco.

Manha de domingo. Muito frio. Três graus.

Saí da cama enrolado no cobertor, liguei a TV para esperar a corrida e olhei pela janela.

Lá fora estava tudo coberto pela neblina.

Não se via nada.

Nem o meu fusca.

Roubaram o meu fusca.

Em Monte Carlo a corrida estava começando.

Eu não perderia a corrida por nada. Perdi.

O carro estava no seguro e fui providenciar boletim de ocorrência, delegacia, etc.

Enquanto isso, em Monte Carlo, os carros estavam no grid.

Em Mônaco, palco da quinta etapa do campeonato, o dia estava seco e nublado.

Largaram.

Reutemann e Andretti patinaram na largada e Watson pulou na frente.

James Hunt bateu no pneu traseiro de Reutemann. Resultado, os dois foram para os boxes ao final da primeira volta. A Ferrari trocou o pneu traseiro e a McLaren a roda dianteira.

Depailler, numa manobra perfeita, passou Lauda e assumiu o segundo lugar.

Em quarto lugar, um pouco distanciados, vinham Andretti, Scheckter, Peterson, Jones e Villeneuve.

Um pequeno intervalo e lá vinha um pelotão comandado por Tambay e seguido por Laffite, Pironi, Ickx e Patrese.

Na quarta volta Watson sofria um forte ataque de Depailler, que por sua vez, trazia Lauda babando na sua traseira.

Os três primeiros imprimiam um ritmo fortíssimo.

Eles correram como um trenzinho até a volta número vinte. Grudados um no outro.

Dezessete segundos depois, vinha o segundo pelotão, comandado por Andretti e seguido por Scheckter, Peterson e Villeneuve.

Watson não suportou a pressão, perdeu o ponto de freada da S.Devote e saiu reto, caindo para terceiro lugar.

Instalou-se um feroz duelo entre o líder Depailler e Niki Lauda.

Na volta 45, Lauda teve um pneu furado.

Foi para os boxes e voltou na 6a posição.

Uma volta mais tarde, Andretti perderia muito tempo nos boxes resolvendo uma inundação de gasolina no interior do cokpit.

Scheckter assumiu a terceira colocação e partiu para cima de Watson.

Em quarto lugar vinha Patrese seguido por Villeneuve.

Lauda voava nas ruas de Mônaco, em sensacional recuperação.

Na volta 56, Peterson quebrou a caixa de cambio e abandonou.

Em seguida, Villeneuve bateu forte e também ficou fora da corrida.

Quase sem freios, Watson escapou novamente na Saint Devote, caindo para o quarto lugar.

Emerson Fittipaldi, em corrida discreta, herdou posições e estava em nono lugar.

Depailler liderava, seguido por Scheckter, Lauda, Watson, Pironi, Patrese, Tambay, Reutemann, Emerson e Jabouille.

A corrida estava terminando e Lauda resolveu atacar.

O austríaco deu uma aula de pilotagem, fazendo, por quatro voltas consecutivas, o melhor tempo da corrida.

Ele pulverizou o recorde de Mônaco, que pertencia a Regazzoni.

Para dar uma idéia da velocidade desenvolvida por Lauda, basta informar que ele fez um tempo melhor do que o dos treinos de classificação.

Voando, Lauda surgiu atrás de Scheckter como se fosse passar por cima dele.

Depois da Rascasse, em manobra rapidíssima, passou por Scheckter e foi atrás do líder Depailler.

Não deu tempo.

A corrida terminou com a primeira vitória de Patrick Depailler em um Grande Premio.

O francês fez uma corrida sem erros. Andou forte e soube superar a pressão de Lauda. De quebra, com os nove pontos obtidos em Mônaco, assumiu a liderança isolada do campeonato.

Lauda, pilotando a Brabham Alfa Romeo BT46, ficou com a segunda posição e ganhou todos os prêmios de melhor piloto da corrida.

Jody Scheckter, muito bem na corrida, ficou com o terceiro lugar, ao volante do seu Wolf WR1.

Watson, com a outra Brabham, ficou em quarto lugar.

A seguir, fazendo grande corrida, chegaram Pironi, com seu Tyrrell 008 e Patrese com Arrows FA1.

Emerson terminou em 9o lugar.

Na segunda-feira pela manha, meu carro foi localizado pela polícia.

Inteiro. Só o quebra-vento quebrado.

Até hoje, a cada Grande Premio de Mônaco, eu lembro dessa história.

E, em toda véspera do GP de Mônaco, verifico as portas, olho pela janela e confiro a garagem.

Exatamente como eu vou fazer neste sábado, véspera do Grande Premio de Mônaco.


Campinas, 13 de maio de 1999


Cláudio Medaglia





Free Web Hosting