GRANDE PRÊMIO DA ESPANHA DE 1980


7a etapa

Jarama, 1 de junho de 1980


Duas entidades do automobilismo, a FISA e a FOCA, comandadas por Ballestre e Ecclestone, sucumbiram à guerra das vaidades. A luta pelo poder estava trazendo enormes problemas para o automobilismo.
Ballestre criou uma reunião para os pilotos, com presença obrigatória, às vésperas de cada Grande Prêmio, quando seriam discutidos problemas de segurança e condições gerais dos circuitos.
Ecclestone disse que era tudo frescura e desdenhou a determinação de Ballestre.
Os pilotos acreditaram nele e não foram às reuniões.
Desmoralizado, Ballestre multou cada piloto em US$ 2.000
Os pilotos ainda foram notificados sobre a suspensão das suas licenças enquanto as multas não fossem pagas.
Ecclestone aconselhou os pilotos a não pagar a multa.
Ninguém pagou.
A retaliação foi duríssima.
Todos os pilotos estavam suspensos, não podendo participar do próximo GP.
A etapa espanhola seria anulada por falta de competidores habilitados.
O troco de Ecclestone foi organizar um Grande Prêmio da Espanha Pirata.
Quase todas as equipes ficaram ao lado de Ecclestone.
Quase.
Ferrari, Renault e Alfa Romeo arrumaram as malas e deixaram a Espanha.

Os treinos.
Jacques Laffite conquistou a pole.
Seu companheiro, Didier Pironi, ficou com a terceira posição no grid de largada.
Os pilotos da Williams, Alan Jones e Carlos Reutemann classificaram-se em segundo e quarto, respectivamente.
Nelson Piquet, ainda achando que o carro poderia melhorar, conquistou o quinto lugar no grid.
Surpreendentemente, Alain Prost levou a sua McLaren à Sexta colocação.
Não menos surpreendente, foi o sétimo tempo obtido pelo segundo piloto da Brabham, Ricardo Zunino.
A Equipe Fittipaldi, depois de alguns problemas, classificou Keke Rosberg em 18o e Emerson em 19o
Emerson, com falhas no motor do carro titular, treinou com o reserva.

A corrida.
Domingo de muito calor.
Pela primeira vez, vinte e dois carros alinharam com o mesmo motor e o mesmo pneu.
Ford Cosworth e Goodyear equipavam todos os carros.
Largaram.
Carlos Reutemann fez uma largada perfeita e pulou na frente.
Alan Jones assumiu o segundo lugar.
As Ligier de Pironi e Laffite ficaram em terceiro e quarto.
Nelson Piquet estava em quinto.
As primeiras voltas da corrida não apresentaram modificações.
Emerson andava no último pelotão.
Alain Prost abandonou a corrida, na quinta volta, com quebra do motor da McLaren.
Na oitava volta foi a vez de Keke Rosberg sair da prova, depois de rodar na curva Portago.
Lá na frente, as Ligier trocaram de posição.
Laffite passou Pironi.
Nelson Piquet fazia bela corrida.
Ele encostou em Pironi.
Encostou e passou.
Piquet conquistou a 4a posição e partiu para cima de Laffite.
De repente, Alan Jones perde rendimento e é ultrapassado por vários pilotos.
Ele deve ter errado algumas marchas, pois logo em seguida, a sua Williams voltou a andar normalmente.
Com isso, Nelson Piquet ficou em terceiro lugar, muito próximo dos líderes, Reutemann e Laffite.
Aqui apareceu uma das primeiras manifestações, na fórmula 1, do talento de Nelson Piquet.
Os carros de Reutemann e Laffite eram melhores que o Brabham.
Cada vez que Laffite, o segundo colocado na corrida, por qualquer razão, perdia contato com Reutemann, Piquet encostava nele.
Laffite, pressionado, exigia tudo da lua Ligier e encostava em Reutemann.
Piquet, sensato, deixava os dois duelarem.
Laffite tentava ultrapassar.
Reutemann fechava a porta.
Piquet, em prudente distância, assistia.
Normalmente, ao ultrapassar retardatários, Reutemann era mais ágil que Laffite.
Quando isso acontecia, Piquet encostava em Laffite.
O francês voltava a andar no limite e grudava em Reutemann.
Tentava passar o argentino.
Piquet aguardava.
Durante 22 inesquecíveis voltas, Nelson Piquet induzia Reutemann e Laffite, principalmente, ao erro.
Tal qual um filme de suspense, os espectadores começaram a tremer quando Emílio de Villota apareceu no meio da reta.
De Villota, sem dúvida, foi um dos piores pilotos que já passaram pela fórmula 1.
Os líderes chegando e Villota, lentamente, no meio da reta.
Cabelos em pé.
Respiração suspensa.
Carlos Reutemann, decidido, ultrapassou Villota pela direita.
Laffite, quase ao mesmo tempo, tenta pela esquerda.
E o coitado do Villota, literalmente perdido, no meio da encrenca.
A pista ficou estreita.
Laffite raspa a Ligier no guard-rail e bate no carro de Villota.
Com a suspensão dianteira quebrada, a Ligier passa reto na curva e atropela a Williams de Carlos Reutemann.
Os três carros, em alta velocidade, vão para fora da pista levantando muita poeira.
Reutemann teve um corte no joelho.
O público, de pé, aplaudia Nelson Piquet, o vencedor daquela batalha.
A liderança, agora, era do brasileiro, com boa vantagem sobre Didier Pironi.
O desempenho de Piquet era consistente.
Ele era quase um segundo mais rápido, por volta, do que Pironi.
Durante oito voltas Piquet reinou absoluto.
Até que a caixa de câmbio da Brabham quebrou, deixando Piquet fora da corrida.
Ao sair do carro e caminhar para os boxes, Piquet foi vivamente aplaudido pelos espanhóis.
Didier Pironi era o novo líder.
Alan Jones estava em segundo lugar.
A diferença entre os dois era de 23 segundos.
A corrida encaminhava-se para o final.
Só um acidente tiraria a vitória de Pironi.
E aconteceu o acidente.
Uma roda dianteira da Ligier soltou-se e o carro bateu no guard-rail.
Alan Jones herdou a primeira posição.
Com tantas quebras e acidentes, restavam apenas seis carros na pista.
O Fittipaldi F7 de Emerson era o quinto.
Chamava a atenção o segundo lugar ocupado pela Arrows de Jochen Mass.
Nenhuma alteração aconteceu nas voltas finais e os pilotos receberam a bandeirada final na seguinte ordem:
  1. Alan Jones ( Williams )

  2. Jochen Mass ( Arrows )

  3. Elio de Angelis ( Lotus )

  4. Jean-Pierre Jarier ( Tyrrell )

  5. Emerson Fittipaldi ( Fittipaldi )

  6. Patrick Gaillard ( Ensign )


No outro dia, a FIA ratificou a suspensão dos pilotos e a conseqüente nulidade da prova.
A classificação do mundial de pilotos continuava a mesma da etapa anterior, ignorando a corrida espanhola.
Assim foi a história de Grande Prêmio anulado.

Campinas, 14 de setembro de 2003
Claudio Medaglia






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