GRANDE PRÊMIO DO CANADÁ DE 1980


14a ETAPA

Montreal, 28 de setembro de 1980


Construído no parque onde foi realizada a EXPO 70, o circuito Ilha de Notre Dame, na cidade de Montreal, tem várias gincanas e duas freadas violentas, onde os freios são muito exigidos.
Ali foi realizada a penúltima etapa do Campeonato Mundial de Pilotos de 1980.
Nelson Piquet e Alan Jones, separados por apenas um ponto, apresentavam-se como duelantes pelo título.
As apostas estavam abertas.
Frank Williams afirmava que Jones venceria a corrida e o campeonato.
Jackie Stewart, comentarista da rede de televisão ABC dizia que Alan Jones merecia o título pelo que fez durante o campeonato, lembrando, ainda, a vitória no anulado GP da Espanha.
Franco Lini, jornalista italiano, dizia que Alan Jones era um operário do automobilismo, enquanto Nelson Piquet era talento puro.
Lini foi mais longe ao declarar que o brasileiro pilotava com o coração, fazendo coisas incríveis para vencer uma corrida.
Jones, ao contrário, era incapaz de improvisar.
Novidades na fórmula 1.
Foi anunciada, pela Ferrari, a contratação de Didier Pironi para substituir Jody Scheckter.
Pironi formará dupla com Gilles Villeneuve.
Os jornalistas italianos faziam apostas para adivinhar qual dos dois destruiria mais carros na temporada de 1981.
Emerson Fittipaldi, sorridente, anunciava a renovação de contrato de Keke Rosberg.

Os treinos.
Era notável a evolução do Brabham BT 49
Resultado de um belo trabalho de Gordon Murray e Nelson Piquet, o carro estava equilibrado, rápido e consistente.
Intermináveis testes, tentativas e ajustes, culminando com a utilização das rodas de aro 13 polegadas na dianteira, tornaram o Brabham um carro competitivo e apto a enfrentar o poderosíssimo Williams FW07B.
Comprovando a tendência evolutiva, Nelson Piquet barbarizou nos treinos.
Ele obteve a pole position colocando quase um segundo de diferença sobre Alan Jones.
O australiano ficou muito nervoso com a perda da pole para Piquet.
Em terceiro, alinhava Didier Pironi.
A outra Ligier, pilotada por Jacques Laffite, ficou com um modesto 9o lugar.
Bruno Giacomelli, mais uma vez, fez um magnífico treino.
Sua Alfa Romeo ficou classificada em quarto lugar, enquanto seu companheiro de equipe, Andréa de Cesaris, obtinha a 8a colocação no grid.
Carlos Reutemann era o 5o colocado.
Keke Rosberg conseguiu classificar-se em 6o lugar.
Foi um belíssimo desempenho, mostrando a grande evolução do Fittipaldi F8.
Emerson Fittipaldi não foi tão rápido.
Com problemas nos freios, Emerson ficou com a 16a posição no grid de largada.
Insisto. Com dinheiro, tempo e paciência a Equipe Fittipaldi poderia evoluir bastante.
Melancolicamente, Jody Scheckter não conseguiu classificar-se para o GP do Canadá.
Foi o ponto mais baixo da carreira do Campeão Mundial de 1979.
Gilles Villeneuve, a duas penas, conseguiu o 22o tempo no grid.
Sem dúvida, era uma das piores temporadas da história da Ferrari.
Um dos motivos para o péssimo desempenho da Ferrari, segundo alguns especialistas, era o pneu Michelin.
A Renault, também equipada com os pneus franceses, andava em franca decadência.
Jean-Pierre Jabouille ficou com a 13a posição na largada.
René Arnoux foi ainda pior.
Ele classificou o Renault RE 20 na penúltima posição no grid de largada.

A Corrida.
Domingo. Sol e muito frio.
Largaram.
A primeira curva em Montreal era á direita.
Piquet e Jones percorreram os primeiros metros lado-a-lado.
Jones foi jogando o seu carro para a direita, prensando o brasileiro contra o muro.
Piquet não aliviou.
Os dois carros se tocaram.
Piquet foi jogado contra o muro e voltou para o centro da pista totalmente atravessado, fechando o caminho dos demais pilotos.
Pironi bateu no carro de Piquet.
Alguns pilotos conseguiram evitar o acidente. Outros não.
Foi o caso de Keke Roberg, Emerson Fittipaldi, Jean-Pierre Jarier, Derek Daly, Mario Andretti, Jochen Mass e Andréa de Cesaris.
A corrida foi interrompida.
Uma nova largada seria dada uma hora depois.
Atividade frenética nos boxes.
A Equipe Brabham preparava o carro reserva para Nelson Piquet.
Na Equipe Fittipaldi foi decidido que Keke Rosberg correria com o F8 reserva, enquanto Emerson Fittipaldi pilotaria o velho F7A.
Keke, largando em 6o lugar, tinha melhores chances de realizar uma boa corrida.
Finalmente, pela segunda vez..........................
.......Largaram.
Didier Pironi, visivelmente, queimou a largada.
Mesmo assim, Alan Jones assumiu a ponta.
Nelson Piquet ultrapassou Pironi e partiu para cima de Jones.
É importante lembrar que Piquet, em conseqüência do acidente da primeira largada, corria com o carro reserva configurado para os treinos classificatórios.
Era um carro equipado com um motor “envenenado” o que propiciou a Piquet andar muito forte no início da corrida.
Em compensação, temia-se pela sua durabilidade.
Pouco tempo depois, Nelson Piquet passava por Jones e tomava a liderança.
Voando na pista, o piloto da Brabham abria um segundo por volta para Alan Jones.
Emerson Fittipaldi abandonou a corrida ainda na oitava volta.
Seu velho F7 não agüentou o tranco.
Nelson Piquet liderou, tranqüilamente, por mais de 20 voltas.
Seu desempenho era impecável.
Ele não errava uma freada, uma tomada de curva e era muito rápido.
Em 25 voltas a distância para Alan Jones superava a marca de 30 segundos.
De repente, o motor do Brabham fundiu.
No meio daquela fumaça branca via-se Piquet saltar do carro e abandonar a corrida e a luta pelo título.
Alan Jones era o novo líder da corrida.
Como seu guarda-costas, Carlos Reutemann corria em segundo lugar.
Fiel a sua fama de piloto azarado, Jean-Pierre Jabouille perdeu os freios no ponto mais veloz da pista e foi de encontro a um muro de concreto.
O piloto da Renault ficou preso no carro por mais de 30 minutos.
Depois de tanto tempo, Jabouille foi retirado do carro com as duas pernas quebradas.
Avisado pelos boxes que estava penalizado em um minuto por ter queimado a largada, Didier Pironi resolveu andar forte.
Pironi passou por Reutemann.
Logo em seguida o piloto da Ligier partiu para cima de Alan Jones.
Nessa tocada, ele estabeleceu a melhor volta da corrida.
Sabendo da penalizacao e procurando evitar maiores riscos, Alan Jones deixou Pironi passar.
O único trabalho de Jones era manter-se próximo de Pironi.
Tarefa cumprida.
Alan Jones recebeu a bandeirada da vitória secundado por Carlos Reutemann.
Dobradinha da Williams.
Didier Pironi classificou-se em terceiro lugar, apesar de ter chegado na frente de Jones e Reutemann.
John Watson, com o novo McLaren M30, chegou em ótimo quarto lugar.
Gilles Villeneuve conseguiu levar a sua Ferrari ao 5o posto.
Fazendo a melhor corrida da sua vida, Hector Rebaque classificou o seu Brabham em 6o lugar.
Keke Rosberg levou o Fittipaldi F8 ao 9o lugar na corrida, duas voltas atrás dos lideres.
Depois do Grande Prêmio do Canadá, a classificação do campeonato ficou assim:
  1. Jones = 62 pontos ( Campeão )
  2. Piquet = 54 pontos
  3. Reutemann = 43 pontos
  4. Laffite = 32 pontos
  5. Arnoux = 29 pontos
  6. Pironi = 28 pontos
  7. De Angelis = 10 pontos
  8. Jabouille = 9 pontos
  9. Patrese = 7 pontos
  10. Daly = 6 pontos
  11. Jarier = 6 pontos
  12. Rosberg = 6 pontos
  13. Villeneuve = 6 pontos
  14. Watson = 6 pontos
  15. Emerson = 5 pontos
  16. Prost = 5 pontos
  17. Mass = 4 pontos
  18. Giacomelli = 4 pontos
  19. Scheckter = 2 pontos
  20. Rebaque = 1 ponto

Campinas, 16 de outubro de 2003
Cláudio Medaglia
medaglia@globo.com

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