Foi uma corrida trágica.
Durante os treinos de sexta-feira, o argentino Carlos Reutemann atropelou o mecânico da Osella, Giovani Amadeo.
Ele morreu.
A culpa não foi do argentino, tendo em vista a pequena área dos boxes e o número elevado de pessoas que não tinham de estar ali.
Depois da tragédia, os treinos recomeçaram e os principais classificados foram os seguintes:
Carlos Reutemann ( Williams )
Nelson Piquet ( Brabham )
Didier Pironi ( Ferrari )
Riccardo Patrese ( Arrows )
John Watson ( McLaren )
Alan Jones ( Williams )
Gilles Villeneuve ( Ferrari )
Eddie Cheever ( Tyrrell )
Jacques Laffite ( Ligier )
Nigel Mansell ( Lotus )
Keke Rosberg ( Fittipaldi )
Alain Prost ( Renault
No Domingo, um pouco antes da largada, todos os mecanicos ficaram na frente do grid, impedindo o início da corrida. Eles protestavam contra a falta de segurança e a conseqüente morte do piloto da Osella.
Os mecânicos da Lotus, oportunamente, protestaram contra a eliminação do Lotus 88 e a aceitação de todos os carros que o copiaram.
Foi uma vergonha.
O Lotus banido e os outros carros, verdadeiros clones, tranqüilos na pista.
Quando os pilotos viram aquele protesto, soltaram os cintos de segurança e se juntaram ao grupo.
Confusão total.
Os organizadores e os chefes de equipe tentavam obrigar os pilotos a retornar aos seus carros.
O mais pressionado era Nelson Piquet.
Seu chefe, Bernie Ecclestone, estava uma fera.
Depois de muito tempo, achando que o protesto já tinha alcançado seus objetivos, os mecânicos voltaram aos boxes.
E os pilotos aos seus carros.
Aí começou outra confusão.
A medida em que os pilotos afivelavam os cintos de segurança, auxiliados pelos mecânicos, e saiam para a volta de apresentação, outros mais lentos, ainda discutiam fora dos carros.
Virou um caos.
Os carros driblavam os mecânicos, pilotos e outros autos.
Quase aconteceram novos atropelamentos.
Completada a volta de apresentação, carros alinhados, Riccardo Patrese fazia sinais com os braços, indicando que o motor tinha morrido.
David Luchett, chefe dos mecânicos, foi correndo acionar o motor de arranque.
O maluco do diretor da prova, já de saco cheio de tanta confusão, deu a largada assim mesmo.
Todo mundo desviou do Patrese, menos seu companheiro de equipe, Siegfried Stohr, que encheu a traseira do Arrows e prensou o mecânico.
Ele teve fratura nas duas pernas e traumatismo craniano.
Depois de tudo isso, vamos a corrida.
Largando muito bem, Pironi pulou na frente, seguido de Reutemann e Piquet.
Na terceira volta Piquet ultrapassa Reutemann.
Na quinta, Jones também passou Reutemann.
Alan Jones foi para cima de Piquet.
Por duas vezes ele tentou a ultrapassagem e não conseguiu.
Na terceira tentativa, Jones deu um totó na traseira do Brabham de Piquet, mandando-o para fora da pista e da corrida.
Na época, Piquet declarou o seguinte sobre o acidente:
-Ele é uma besta. Está desesperado porque está correndo atrás do Reutemann. Jones nunca foi um piloto excepcional. Ele teve sorte de pegar um carro muito bem acertado e com um ótimo desenhista.
Logo em seguida, endossando as palavras de Piquet, Jones errou sozinho e foi parar no guard-rail.
Didier Pironi foi, com problemas nos freios, caindo várias posições.
Jacques Laffite, apesar de toda a sua combatividade e garra em tentar acompanhar o ritmo imposto por Reutemann, não tem equipamento para andar na ponta.
O inglês Nigel Mansell, pilotando sua Lotus, fez uma corrida brilhante e regular. Marcou seus primeiros pontos no campeonato e foi para o pódio.
Os torcedores ingleses estavam sedentos por um piloto de ponta.
Mansell será este piloto?
A resposta será dada alguns anos mais tarde.
Carlos Reutemann assumiu a ponta e não deu chance a ninguém.
Ele está atravessando sua melhor fase como piloto.
Em Zolder soube evitar todos os riscos do início da corrida e manteve um ritmo fortíssimo, mesmo depois de distanciar-se de Laffite.
Na volta 55 ( de um total de 70 ) a corrida foi interrompida e encerrada pela forte chuva que começou a cair.
Reutemann fez a pole-position, venceu a corrida, fez a melhor volta da prova e de quebra, bateu o recorde de Fangio, conseguindo 15 classificacoes consecutivas entre os seis primeiros.
Mas ele não comemorou.
A lembrança da morte do mecânico Giovani Amadeo era mais forte.
Campinas, 16 de outubro de 1999
Cláudio Medaglia