GRANDE PRÊMIO DA AUSTRÁLIA DE 1986



Adelaide, 26 de outubro de 1986


Nigel Mansell, Nelson Piquet e Alain Prost chegaram a última corrida do campeonato de 1986 em condições de ganhar o título.

Mansell buscava o seu primeiro campeonato.

Piquet sonhava com o tri-campeonato, para alcançar o status de Jack Brabham, Stewart e Niki Lauda.

Prost, o atual campeão, buscava o que não era conseguido na fórmula 1 há 26 anos, a conquista de dois campeonatos consecutivos.

Ayrton Senna, fora da disputa pelo título, tentava conquistar a nona pole-position da temporada, o que lhe daria um lugar no seleto clube que tem como únicos sócios, Lauda, Peterson e Piquet.

Com este cenário, os pilotos foram para os treinos classificatórios de sexta-feira e sábado.

Senna, tentando obter o recorde de pole, exagerou e destruiu o carro contra um muro de concreto, na sexta-feira.

Sem o modelo de classificação, ele ficou com o terceiro tempo, no sábado.

Mansell, numa demonstração de forca, dominou todos os treinos e conquistou a pole.

Ao seu lado, nada menos do que Piquet.

E, para deixar todo mundo de cabelo em pé, na segunda fila, ao lado de Ayrton Senna, aparecia o campeão Alain Prost.

Na quarta fila encontramos Keke Rosberg, segundo piloto da McLaren, fazendo a sua última corrida. Ele teve uma importância tática muito grande nesta corrida, como veremos a seguir.

Chegou o domingo.

Largaram.

Mansell saltou na frente, porém, na primeira gincana, foi ultrapassado por um arrojado Senna e, na continuação da manobra, por Piquet.

Ao completarem a primeira volta, Piquet ultrapassa Senna.

Rosberg, andando muito forte, deixa para trás Mansell e Prost.

Na segunda volta, as posições são: Piquet, Senna, Rosberg, Mansell e Prost.

Com estas colocações, Piquet seria o campeão.

É importante destacar a tática de corrida elaborada pela McLaren. Keke Rosberg foi lançado como lebre, visando provocar erros nos pilotos da Williams e, conseqüentemente, preservar Alain Prost.

Na terceira volta, Rosberg passa Ayrton Senna.

Na volta seguinte é a vez de Mansell ultrapassar Senna.

Rosberg estava se aproximando de Piquet, enquanto Prost ganhava o quarto lugar de Senna.

Na 6a volta, Rosberg sai da gincana no vácuo de Piquet e passa por ele no final da reta. Piquet não arrisca uma dividida e Rosberg vai embora. Ele impõe um rítimo infernal a corrida.

Prost, com o seu tradicional estilo “falso lento”, ultrapassa Mansell e vai para cima de Piquet.

A pressão de Prost era tremenda.

Na 22a volta, Piquet erra em uma freada mais forte, trava as rodas e perde a posição para Prost e Mansell.

Neste momento, as posições são as seguintes:

Rosberg, Prost, Mansell e Piquet.

Keke Rosberg está a 17 segundos a frente de Prost, 22 segundos de Mansell e 29 s de Piquet.

Que corrida.

Na volta 32, Prost entra prematuramente nos boxes com um pneu dianteiro furado.

Ele troca todos os pneus.

Todos pensaram que Prost estava fora do campeonato quando ele voltou em quarto lugar, vinte e um segundos atrás de Piquet.

Em seguida, Piquet passou Mansell, sem, contudo, distanciar-se do inglês.

Enquanto isso, o professor dá mais uma aula de pilotagem, aproveitando os seus pneus novos para tirar quase dois segundos, por volta, das duas Williams.

Na volta 62, o lider Rosberg abandona a corrida, com o pneu traseiro totalmente dechapado.

Vamos respirar e pensar.

Piquet, em primeiro lugar, e Mansell, em segundo, estavam perdendo terreno para um rapidíssimo Alain Prost. A ultrapassagem do francês era inevitável. Sem dúvida, era imperativo trocar os pneus das Williams.

Faltavam 25 voltas para o final da corrida. Ainda daria tempo para as duas Williams voltarem em segundo e terceiro lugar.

Mansell, principalmente, poderia ter trocado, calmamente, os pneus e ainda voltar em terceiro lugar, o que seria suficiente para o título. O quarto colocado na corrida, Streiff, estava com uma volta e meia atrás. Não tinha erro.

Teimoso, burro e sem orientação da equipe, Mansell não parou nos boxes e insistiu em permanecer na pista com os pneus velhos.

O erro logo será cobrado.

Na volta seguinte, o pneu traseiro de Mansell explode espetacularmente, provocando uma das mais memoráveis cenas da história da fórmula 1.

Nigel Mansell consegue manter o domínio do carro, até a sua imobilidade, em notável demontracao de perícia.

Mansell está fora da luta pelo título.

Faltam 18 voltas para o final.

Que corrida.

Piquet continua liderando e Prost encosta, com um carro muito mais equilibrado.

A Williams, assustada com o que aconteceu a Mansell, chama Piquet para trocar os pneus.

Pit stop de apenas sete segundos.

Piquet volta a 18 segundos de Prost.

Ele teria que tirar mais de um segundo por volta. Bem que tentou.

Fez a volta mais rápida da corrida, mas logo ficaria claro que não seria possível chegar em Prost.

O professor não errava. O francês administrava a distancia de Piquet com extraordinária categoria.

Ele recebeu a bandeirada da vitória com quatro segundos a frente do brasileiro.

Assim foi a conquista de Alain Prost, o magnífico bi-campeao do mundo.



Campinas, 27 de outubro de 1999


Cláudio Medaglia




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