Jerez de la Frontera, 13 de abril de 1986
A segunda etapa do campeonato mundial de fórmula 1 foi disputada no novíssimo autódromo de Jerez de La Frontera, sul da Espanha.
O GP da Espanha não fazia parte do calendário da fórmula 1 desde 1981.
O recem inaugurado autódromo de Jerez, com o seu traçado sinuoso, desde o início, provocou muitas reclamações. Os pilotos não gostaram dos desníveis da pista e do seu desenho.
Enquanto os pilotos reclamavam, Ayrton Senna pulverizava os cronômetros com 1.21.605, obtidos na sexta-feira.
Nos treinos de sábado, muitos pilotos superaram os seus próprios tempos, sem, entretanto, ameaçar a excepcional marca de Ayrton Senna.
Esta foi a pole número 100 da Lotus.
E foi a segunda pole de Senna, em duas etapas da temporada.
As principais posições do grid de largada:
Ayrton Senna Lotus Renault
Nelson Piquet Williams Honda
Nigel Mansell Williams Honda
Alain Prost McLaren Porsche
Keke Rosberg McLaren Porsche
Rene Arnoux Ligier Renault
Gerhard Berger Benetton BMW
Jacques Laffite Ligier Renault
Teo Fabi Benetton BMW
Johnny Dumfries Lotus Renault
Repararam?
Nenhuma Ferrari entre as 10 primeiras posicoes no grid.
Vergonhosamente, as duas Ferrari só conseguiram a 11a posição, com Stefan Johansson e a 13a, com Michelle Alboreto.
Chegou o domingo.
Um calor desgraçado.
Largaram.
Senna, com uma boa largada, assumiu a ponta.
Em seguida, vinham Piquet, Mansell, Rosberg e Prost.
Ainda na largada, Alan Jones e Jonathan Palmer colidiram. Acabou a corrida para eles.
Alessandro Nannini abandona, com a quebra do diferencial da sua Minardi.
Andréa de Cesaris, com a outra Minardi, abandona a corrida.
Adivinha qual foi o problema?
Quebra do diferencial.
Na segunda volta, Rosberg conquista a terceira posição ao ultrapassar Mansell. O segundo piloto da McLaren estava usando toda a potencia do turbo.
Na quarta volta, Prost ultrapassa Mansell.
Chegamos a 10a volta e a corrida está cada vez melhor.
Separados por apenas três segundos, encontramos Senna, Piquet, Rosberg, Prost e Mansell.
Em seguida, vinham embolados, Arnoux, Laffite, Johansson e Alboreto.
Na 11a volta, Johansson saiu da pista, com a sua Ferrari, sem freios. Bate violentamente no guard-rail. O impacto foi tão forte que, ao sair do carro, Johansson desmaiou, ficando estendido no chão até ser socorrido. Não houve sequelas, felizmente.
Na metade da prova, Senna continuava liderando, seguido por Piquet e Rosberg.
Mansell inicia a sua recuperação e passa Prost.
Em seguida vem Laffite. Depois Berger, fazendo ótima corrida, em sétimo.
Volta 32. Hora de torcar pneus.
Laffite é o primeiro a fazer isso. Entra nos boxes para trocar os pneus em sexto lugar e volta a pista sem perder a posição.
Mansell, voando baixo, ultrapassa Rosberg e assume o terceiro lugar.
Mansell vai para cima de Piquet e faz a ultrapassagem.
Agora temos Senna em primeiro e Mansell em segundo.
Rosberg e Prost vão para os boxes e trocam os pneus.
Mansell coloca Senna na alça de mira.
Na volta 40, Mansell chegou e encostou.
Senna atrapalhou-se com um retardatário e Mansell, numa manobra sensacional, aproveita e passa.
Piquet abandona a corrida com o motor estourado.
Laffite idem.
Mansell dispara 4 segundos de distância.
Senna, porém, não desiste.
Com obstinação, torna a encostar em Mansell.
Loucura total.
Senna coloca o iço do carro. Mansell fecha a porta.
Senna tenta na reta. Mansell fecha.
Senna joga com o fator surpresa, fingindo tentar a ultrapassagem em todas as curvas. Até as impossíveis.
Mansell, olhando mais para os retrovisores do que para a frente, fecha todas as portas.
Aí, na volta 64, acontece o grande drible.
Senna retarda uma freada e, bruscamente, muda o traçado.
Mansell fecha a porta da direita e vê, para seu desespero, Senna passar pela esquerda.
O Mansell está procurando o Senna até agora.
O inglês resolve parar nos boxes e trocar pneus.
A Williams trabalha rápido. Oito segundos.
Mansell volta em terceiro, atrás de Senna e Prost.
Senna tem consistentes 2 segundos para Prost e 19 para Mansell.
A corrida já está decidida?
Não mesmo.
O rendimento da Williams de Mansell passou a ser outro com o novo jogo de pneus.
Senna, que não trocou os pneus, domava o seu instável Lotus com muito talento.
Talento que também sobrou para o inglês. Mansell fez 6 melhores voltas da corrida em seqüência, imprimindo um rítimo alucinado.
Mansell desconta 16 segundos em sete voltas.
Faltam duas voltas e Mansell encosta em Prost, o segundo colocado.
O francês defende a posição por uma volta inteira.
Quando o inglês, finalmente, ultrapassa Prost e sai em busca de Senna, a diferença é de 2,1 segundos.
Ao começar a última volta, a diferença entre os dois era de apenas 1,5 segundos. Mansell está babando no aerofólio de Senna.
Tenta pela direita. Não deu.
Tenta pela esquerda. Também não deu.
Agora é Senna quem fecha a porta.
Os dois alcançam a curva de entrada da reta para a bandeirada praticamente colados. É uma curva lenta a esquerda.
Senna procura frear bem antes, para que os dois carros percam rotações no motor. Mansell quase bate na traseira da Lotus.
Entram na reta.
Respiração suspensa.
Até quando pode, Mansell fica no vácuo de Senna e tenta a ultrapassagem em cima de linha de chegada. Não deu.
Senna vence.
A diferença foi de 0,014s .
Foi uma corrida memorável, com um final deslumbrante.
Campinas, 5 de novembro de 1999
Cláudio Medaglia