EM BUSCA DE UMA LENDA... UMA LENDA ENCONTRADA


Esta história aconteceu a muito, muito tempo atrás. Ainda não existiam edifícios gigantescos, salas com luzes que fazem a gente pensar que voamos ou estamos no céu, não existiam máquinas que escrevem muito melhor do que gravetos em argila, ainda que isso me assuste pois queira ou não, não posso acostumar-me a esses inventos.

Podem chamar-me de saudoso, pois o sou. Nem tudo o que tenho hoje me traria de volta as felicidades que tive. O nascer do sol, as nuvens formando formas que me faziam sorrir, a floresta com seu cheiro de orvalho pela manhã. É bem certo que naquela época não possuíamos tantos confortos, mas eu era feliz. Feliz ao acordar, ao ouvir os pássaros, ao ver a luz do sol e todas essas pequenas coisas me satisfaziam e eu não sabia, não sabia que amava, que tinha liberdade, que poderia ser apenas.

Procurava, como todo jovem procura, confusões e as encontrei. Por isso que estou aqui, me revelando, mostrando um dia num passado que só pode existir hoje em forma de contos de fadas, deixo claro que muitas histórias são verdadeiras, mesmo sendo difíceis de acreditar. Mas vamos ao que interessa, não temos muito tempo, VOCÊ pode morrer a qualquer momento!

Era um dia comum, chovia e eu estava em pé logo ao nascer do sol, para ser sincero, se não me falhe a memória eu havia passado a noite acordado imaginando uma forma de fazer algo que me animasse aquele dia. Resolvi que sairia atrás de aventuras, iria atrás de uma lenda que ouvi muito pequeno que dizia que entre as árvores do campo haviam criaturas, criaturas boas chamadas fadas e criaturas más, pequenos trolls. É claro que não encontrei nenhuma delas, mas encontrei um ser pior, muito pior. Mas vejam só, estou me adiantando, não quero estragar a história então peço licença para falar um pouco a meu respeito.

Pele clara, queimada pelo sol. Olhos deficientes que enxergavam tudo como se estivesse olhando através da água, tenho notícias que essa deficiência hoje é chamada de miopia e é muito comum, não era bonito como muitos garotos que moravam nas minhas proximidades, era mais baixo que a média e meio gordinho, poderia ter virado um padre muito bem. Mas eu era valente, corajoso, tinha vontade de conhecer coisas novas, uma mente rápida que me levava a constantes viagens, que traziam-me bastante aborrecimentos pois muitas vezes deixei outras pessoas falando comigo enquanto eu nem estava ali presente.

Naquele dia resolvi sair, ir atrás da lenda, descobrir se era verdadeira e me embrenhei na floresta, andei dias seguidos e só, meu peito doía e minhas esperanças de vida se esvaiam como também morriam minhas chances de ver algo que fosse fora do alcance de minha imaginação. Meu nome é Ramon, antes que me esqueça de lhes dizer e esse Ramon que lhos fala hoje é um filho de milênios que alimenta-se de sangue, pois a única criatura que encontrei me apareceu a noite deixou-me esta sina.

Eu continuava minha caminhada, tinha esperanças de encontrar alguém logo depois da próxima colina, mas sempre o que eu via a minha frente era outra e outra montanha. Então esgotado caí; ajoelhei-me próximo a um carvalho e isso é tudo que me lembro, pensei a morte vem vindo, foi bom lhe conhecer deus céu, deusa terra, deus ar, que vocês e todos os outros seres me acudam se por acaso eu me perder antes de encontrar um outro caminho e então fechei meus olhos para a vida.

Aaaaa!!!! - acordei me contorcendo, minha cabeça doía como se arrancassem todo o cabelo ao mesmo tempo, uma sede gigantesca me arrebatava... algo em meus lábios...

Beba logo!!!! - que sensação deliciosa! Minha cabeça girava, estava fora de mim, meu corpo doía, como doía, os membros do meu corpo eram contraídos com tamanha força que eu pensava que ia arrebentar-me - Aaaaaaaaaaaaa!!! - gritava desesperado, mas o líquido penetrava por minha boca, escorria por minha garganta - que diabo de poção é essa que está me dando; bruxo ou demônio, seja lá o que seja!!! - bradava eu mentalmente como se alguém pudesse me ouvir. Como era boa aquela sensação e como era torturante. Então uma pancada muito forte, tudo ficando escuro novamente e meu corpo sendo apertado, forçado, não conseguia abrir os braços, movimentar as pernas. - Onde diabos estou eu? - e nem enxergar alguma coisa consegui, meus olhos não se abriam. Sentia coisas frias passando por mim, minhas roupas já não existiam e então eu não agüentei mais aquele aperto e aquela sede e me debati, tamanha força que nunca tinha experimentado e então joguei-me para cima, atirei-me em direção alguma e consegui, sai de dentro da terra da mesma forma que uma pequena planta, experimentei toda a força para o nascimento e sai de dentro da terra, nu, com fome e sem enxergar por estar muito tempo com os olhos fechados, tombei para o lado como um broto novo e recuperei as forças poucos a pouco.

Minha vista voltava e eu notei que era noite. Quanto tempo havia eu ficado naquele lugar?, eu parecia podre, estava sem roupas e ah, como era insuportável aquela sensação de vazio que sentimos quando temos fome.

Aos poucos equilibrei-me e caminhei devagar muito devagar, parei ao lado de uma macieira e apanhei um fruto, cheiroso, delicioso aos olhos, vida emanava daquela fruta a minha mão, mas ela estava sendo perdida e eu sentia isso, sentia como se sente o vento e a vi morrendo aos poucos, suas células perdendo-se no espaço infinito. Então a mordi e imediatamente a cuspi para o lado. Não consegui sentir nada só sua morte, e aquela sede me matava aos poucos, juntei todas as forças e caminhei.
Estava assustado, via os animais selvagens que buscavam suas presas a noite fugirem como se fugissem de um predador conforme eu passava, e o mais assustador é que era noite. Como eu poderia estar olhando todas aquelas coisas ao meu redor, nem a lua brilhava no céu e se as estrelas emanassem alguma luz elas seriam encobertas pelas copas das árvores. Não dei importância.

` Caminhei feito um louco, corri, juntei todas as forças e corri até notar a minha velocidade. Então parei quando senti um cheiro delicioso. Fui fisgado no mesmo instante e corri em direção ao cheiro. Era uma cabana onde moravam 3 pessoas. O cheiro delicioso era o cheiro deles. Não entendi aquilo, aquelas pessoas eram imundas, sujas e estavam doentes, mas eram deliciosamente encantadoras, e pude notar que não percebiam minha presença. Eu via a morte junto a todos, mas o cheiro me atormentou e eu ataquei, como um bicho feroz, estraçalhei seus corpos e enfim percebi que o que queria era seu sangue, matei um a um e bebia o sangue deles. Como era bom. Mas notei um tumulto ao redor. A partir daí então tomei mais cuidado nas outras casas, não fiz tanto barulho, mas matava sem piedade. A vila inteira fora morta e eu me alimentei como nunca antes. Quanto mais bebia, mas sede sentia e melhor eu sentia. Forças incríveis me dominavam, eu enxergava longe, escutava longe e via o que os outros pensavam.

De repente uma ligeira queimação, não era azia não, não era algo corpóreo que um mortal sente, era uma dor aguda no peito e nos olhos, olhei na direção de onde aquela dor via e notei que era o sol que nascia. Corri dali, aquilo doía mais do que doeu aquele instante quando fechei meus olhos, e fiz o que faria se qualquer um estivesse no meu lugar, enterrei-me novamente.

Não sei mais quanto tempo se passou, mas sei que foi muito, acho que anos talvez, com saídas rápidas para matar qualquer ser que possuísse uma quantidade de sangue razoável para me satisfazer. - Me tornei um monstro. - era meu pensamento, e continuei a matar e a notar que poderia viver em cavernas e então parei de enterrar-me, passei a fugir da luz do sol que me machucava terrivelmente.

Nas profundezas dessas cavernas me guardei, e vi homens e mulheres vestirem muitas fantasias, evoluírem. Eu caminhava e matava como se nada disso importasse. Eu era a lenda que sai a procurar no meu último dia de vida. Porque depois que fechei meus olhos sob aquele carvalho, no dia que me lembro, daquele dia em diante deixei de ser algo que poderia ser respeitado que pudesse ser considerado ser. Eu era um monstro. Algo que assustava as pessoas. O personagem das histórias de terror contadas para as irmãs menores, quando elas acreditavam. Mas o tempo passou e percebi que poderia tentar a viver novamente, comecei a avançar mais para fora das minhas cavernas e vi muitas coisas novas que aconteciam e acontecerem.

Hoje estou aqui, sem saber ao certo o que sou ou o que aconteceu. Escrevendo em alguma coisa muito interessante de nome computador. E não sei o que será do amanhã. Além de que ainda muito tempo irei viver e que muitas, muitas pessoas irão morrer para acabar com minha sede.


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