ODE AO SANGUE
...É hora...pressinto que as brumas não se alongarão por mais que alguns minutos, apenas.
Ah, doce nostalgia dos dias de sol da minha juventude...cruel castigo poder vislumbrar seus primeiros raios por átimos de segundo antes que a letargia e o esquecimento me dominem.
Não diria que sou uma Vampira renegada. Aprendi a conhecer outras belezas que a pobre visão mortal jamais intuiria, aprendi a sugar o sangue morno das criaturas do dia e deliciar-me ao beber suas lembranças, partes de suas almas mortais.
Já não necessito tanto de alimento, controlo meus instintos e quando caço, o faço pelo puro prazer de enamorar-me profundamente de minha vítima. Quando nos encontramos finalmente, é doce a sua surpresa ao encarar-me e mais sublime ainda o ato de amor da entrega que se realiza.
...Não, meus queridos, não há dor em morrer em meus braços, não há o instante de terror que a morte comum carrega consigo. Existe apenas um último sorriso, frágil como um orgasmo espontâneo, breve como o roçar dos meus lábios sobre os seus, tão tênue e belo quanto os primeiros clarões da luz do sol das minhas lembranças.