SOMBRA
Era noite de segunda-feira chuvosa, ninguém caminhava nas ruas da cidade, pelos vidros embaçados de meu quarto avistava apenas ratazanas a correr de um latão de lixo para o outro no beco. Eu já estava parado ali a horas observando o vai e vem desses bichos quando notei que eles pararam de andar como se algo estivesse por perto. Achei estranho, mas de repente todos aqueles animais correram desenfreadamente de um lado para outro como se não soubessem o que fazer, tentei descobrir o que estava acontecendo apenas me movendo na frente da janela para ver alguma coisa, mas não havia nada, olhava para os lados e nada além do nevoeiro e da chuva que caia no beco, olhei novamente para o chão tentando visualizar as ratazanas mas não havia mais nenhuma, apenas uma imensa sombra no local, focalizei melhor os olhos para ter certeza do que via, pois uma sombra numa noite chuvosa era uma coisa estranha para se ver, mas ela estava lá. Não acreditando no que meus olhos mostravam, vesti meu sobretudo negro que estava pendurado no mancebo, calcei minhas botas rapidamente e desci pelas escadas, abri a porta e a chuva caiu em meus olhos, molhando minha cara e me cegando por alguns segundos, dei a volta na casa para chegar ao beco, corria feito louco pela chuva, mas o beco estava ali, próximo, bem a minha frente. Foi quando tropecei e caí. Abri os olhos ainda no chão, notei que estava no beco, estava em cima da sombra que avistara de minha janela, passei a mão no chão para tentar me levantar e notei que aquilo não era uma sombra, era sangue. Era uma enorme mancha de sangue sujo no chão. O sangue se misturava com a podridão e os latões de lixo do beco, a água se misturava com o sangue, algumas carcaças que estavam mais longe, levantei repentinamente enojado por minha descoberta quando um vulto atravessou meu caminho, mas não consegui deduzir o que era, pois foi muito rápido e a chuva atrapalhava, procurei ao redor, mas a chuva não me deixava enxergar, foi quando me senti preso, tentei lutar em vão, a última coisa que vi e senti foram duas presas com uma réstia de sangue penetrarem em meu pescoço me fazendo sofrer por algum tempo, o dono daquelas presas me fez sofrer , arrancou meu sangue e minha vida aos poucos, fez surgir toda minha loucura, fez surgir o pior de mim, e finalmente me deixou morrer..