VITÓRIA
Acabei de sair de meu torpor noturno, a fome cresce em meu estômago, devo dizer-lhes que isso deixa-me com uma aparência mais pálida, mais monstruosa há muito tempo estou trancafiado em meus sonhos, sou seu servo, seu súdito e venho agindo de acordo com a lei de minha mente. Sou considerado um louco pelos meus "irmãos", um sem juízo, um vagabundo, mas provo a todos que sou melhor que eles, sou quase um deus comparado a eles, sou mais forte, mais inteligente e bem mais esperto, mas minha maior vantagem é minha "loucura", ela que faz-me pensar diferente apenas isso, não acho que um comportamento que não se iguala seja considerado loucura. Qual o motivo que leva a todos a pensar que isso é uma coisa malévola? Tomem a minha pessoa ou melhor considerando, tomem o meu ser como exemplo, porque eu sou um louco e não você? Você que se deixa dirigir, você que se deixar guiar, que é conduzido por leis que os humanos inventaram que criaram para proveito próprio. Pensem que essas leis nem sempre são justas, que essas leis invalidam pessoas com características diferentes dizendo que essas são loucas só porque não se comportam do jeito que muitos desejam ou mesmo aquelas que como eu pensam de modo diferente.
Sou
um ser sinistro, algo desconhecido, vivo no mundo porém não
pertenço a ele. Acabei me adaptando de uma forma sem
explicação por motivos de sobrevivência, sou
forte mentalmente, louco, como alguns me chamam, mas o que digo é
o que penso, apenas isso eu PENSO, mesmo que seja um pensamento
"torto", mas penso e nada é mais poderoso do que
essa força mental. Posso as vezes fraquejar, pois não
sou forte o bastante para lutar sozinho, as barreiras para abrir
caminhos são sempre mais difíceis do que seguir por
aqueles que já se abriram e que outros seguem por elas, as
vezes acho que minha transformação ajudou-me a "pensar"
assim, fui abraçado a muito tempo atrás por uma mulher,
que era frágil e forte ao mesmo tempo, era tomada por acessos
de fúria incontroláveis o que lhe pesava logo após
e o que lhe valia o título de louca, mas o que existia nela
era ilusões, sonhos, tudo o que muitos têm mas não
os expõe, porém isso apenas lhe trouxe sofrimento, pois
muitos desses sonhos, ou quase todos foram perdidos graças a
incompreensão de seres fracos e mesquinhos que se firmam em
pedaços podres, que vão se alastrando e apodrecendo
mais pedaços e fazem sofrer àqueles que lutam que não
desejam apodrecer daquela maneira. Sou fruto de uma Vampira que lutou
sozinha, sofreu sozinha e não fraquejou na frente daqueles que
a faziam sofrer, que lutou e sobreviveu pelos tempos, e que ainda
sobrevive, mas estou me adiantando, deixem-me contar a história
de Vitória, o nome de minha mãe-Vampira.
Vitória
recebera seu "abraço" há muito tempo atrás
na Europa. Era a única filha de um militar muito poderoso
casado com uma dama da sociedade, feiticeiros disfarçados por
motivos óbvios, a igreja não aceitava rituais pagãos,
e arruinavam a vida - quando não matavam - de quem os
praticava, mas deixemos para lá esses fatos, deixem-me
continuar a história; Vitória era uma garota infeliz ,
ao contrário de muitas senhoritas da época, seu pai
morreu em combate quando ela ainda era uma criança, a partir
daí passou a ser explorada por sua mãe. Viveu anos sem
sair de seu castelo, trancada entre bonecas e os olhos "cuidadosos"
de sua carcereira severa, em seus castigos atormentava, isolava e
maltratava sua filha, muitos achavam que a garota era insana, pois
poucas vezes a viam e sempre ouviam seus gritos atormentados. Muitos
anos passaram nessa vida atormentada, até que um dia, já
adulta, Vitória discutiu ferozmente com sua mãe e foi
mandada para um convento, onde não ficou muito tempo, brigava
ferozmente com as suas superiores e proferia palavras que levavam a
crer que ela era possuída pelo demônio; e ela fugiu.
Fugiu e conheceu um rapaz noites após a sua fuga, alto, bonito
e galante o cavalheiro concedeu a Vitória muitas mordomias,
mas pouco sua presença, ele vinha sempre a noite e conversavam
muito, quando indagado a respeito de seus afazeres diurnos,
desconversava, mas como ela era sua hóspede aceitava e mudava
de assunto.
Alguns anos se passaram até que Vitória percebeu que não podia sair do castelo do rapaz, dera-se conta que ele a tinha dominado e que ela mesmo assim estava apaixonada por ele, então quando o viu atirou-se nos braços do rapaz pálido e não sentiu nada além do profundo amor fluindo do seu pescoço, seu sangue era drenado, mas ela não se dava conta, ela sentia o êxtase, o maldito prazer da carne como era chamado no convento, ela estava sentido algo que nunca em sua vida experimentara, o rapaz lhe sugava o sangue e ela desfalecia-se em profundo êxtase em seus braços.
Deitada em sua cama Vitória acordou, pensando ter sonhado sentou-se na cama e viu o rapaz que lhe mandou novamente deitar, com uma adaga Michael fez um corte em seu pulso, o sangue começou a correr pela lâmina da adaga e a respingar nos tecidos da roupa de cama, Vitória assustada tentou levantar-se para acudir seu amado, mas este segurou-lhe com uma força que nunca havia imaginado que ele possuísse, Michael inclinou a cabeça de Vitória para trás e fez seu sangue escorrer pela boca de Vitória, no primeiro contato do sangue de Michael com a boca de Vitória a sede de quem havia perdido todo o sangue saltou-lhe a sua vontade, e ela começou a drenar o sangue de Michael que também entrava em êxtase, sentiam-se nas nuvens e Michael aproximou-se do pescoço de Vitória e enterrou suas presas, enquanto um sugava o sangue do outro, ambos se amavam, se deliciavam e trocavam a única sensação que podiam, amor, durou muito tempo até que Michael se desvencilhou, fraco correu em direção a porta, e desapareceu. Vitória ficou anos a esperar o retorno de Michael, porém ele não voltou, e mais uma vez, ela viu-se só, aprendeu a utilizar-se de seus poderes e passou a percorrer o mundo, até que um dia encontrou-me e também transformou a mim em um servo da noite.