POESIAS


Lamento do Vampiro


Ajuda-me a encontrar meu próprio caminho ao luar

Sou mais solitário e desamparado, que jamais pudesses imaginar

Se teus olhos não podem ver na escuridão, meus uivos vão dizer-te

Eu sou um prisioneiro de sangue, da cova fria, um amante

Uma criatura do silêncio

Então, deixa-me tomar o caminho para tuas veias

E seja meu companheiro, noite após noite

Por toda a eternidade

Até que a morte

Nos una.


(Retirado da peça Drácula e outros Vampiros)

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Monstro Da Dor


Em uma imensa selva

Nasceu um monstro destruidor

Alguém sem vida

Nascido do horror


O que existe por trás de sua máscara

Não é apenas sua face

É a morte, o ódio

Que para o mundo não é um disfarce


Abra os olhos para o mundo

É o que ele dizia

Esse monstro, esse louco

De quem o mundo se esquecia


Ele voltou, está devolta

Da selva oculta

Ele renasceu


Está dentro de mim

Está em você

Ele é parte do mundo

Parte que não se pode esquecer


Implore para que ele

Não se apresente em você

Chore e corra

Para que ele não possa te ver


Olhe no espelho

Olhe nos olhos do monstro

Olhe o medo

Que não deixa de transparecer


Sinta falta deste seu lado

Seja fiel a alguém

Sinta a falta dessa vida

Que nunca teve ninguém


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Na névoa do anoitecer

As presenças da noite se aproximam...

Em sombras de vento

Em risadas ecoando entre os braços das árvores


A morte espalha o seu cheiro no ar,

E gritos;

Gritos invadem as minhas veias...

Eu, um ser frio que vive do sangue para o sangue,

Que vive da dor para a dor.


Um monstro sou;

Um monstro que chora a perda da vida

E vive do inevitável,

Por não ser a dor que causo

Nem o prazer que crio.


Nem o prazer que crio.


Na escuridão permaneço

Vivendo nesse escuro medo

Todos estão a me observar

O amor que sinto me protege por nada me amar

O medo se transforma em ódio

Para que eu descubra o que tenho que buscar...


Que mais posso esperar de tudo isso?

Das lágrimas busco o sorriso...

Do peso em meu coração busco a paz

O simples beijo que dou,

Desperta meu imortal desejo do fatal beijo dar

E nesse fim de mais uma vida

O que terei eu de amar?


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Presas afiadas

sob olhos bestiais,

vigilantes na noite

à procura de seu alimento,

que corre vivo e latente,

no corpo de inocentes mortais.

Cadáveres errantes

transcendendo séculos e séculos

com o único propósito,

manterem sua imortalidade

através de crimes hediondos acobertados

por misteriosos poderes oriundos do inferno.

É esta a primeira impressão

que vem à cabeça de um leigo

quando a palavra Vampiro vem à mente.


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Ciclo Imortal


Finalizando o meu eterno ciclo

Vejo o que não posso mais ter

Não mais amo, não mais sinto

Vivo a morte em meu sofrer


A vida eu sugo

Buscando o prazer no elixir dessa mundana vida

O mal eu sou

Ao fugir da paz que almejo


Os traços eu confundo nessa escuridão

O que me cerca são apenas sombras, e morte

Os dias se passaram e eu nunca mereci o fim

O meu tempo se foi e todos os pensamentos se anularam

Amando, eu descobri que somente eu poderia me criar

E eternamente me recriar após um simples fim


Corpo leve que possuo

Peso que tenho que carregar

Minha alma está condenada

E o meu fim eu vivo a buscar


Fui o mais belo imortal

Sempre existi consciente em mim

Lágrimas de sangue dos meus olhos rolaram

Quando eu criei o meu fim...

Me recriei em mim buscando um novo fim

Que nunca tive, mesmo criando uma prole pra mim

Da morte surgiu a morte sem nunca se ter um fim!


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Pelo seio frio e viperino sorrir,

Por seus abismos de perfídia encobrir,

Por este olhar de virtude simulada,

Pela hipocrisia de tua alma trancada;

Por ter de tua arte a perfeição,

Que por humano fez passar teu coração;

Por ter a dor alheia como fim,

E por tua irmandade com Caim,

Eu te invoco! E o ordeno

Que tu mesmo sejas teu próprio inferno!


(Lorde George Gordon Byron)

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"O homem que volta pela Porta da Parede jamais será o mesmo homem q saiu por ela.

Será mais sábio e menos dogmático; mais feliz, contudo menos satisfeito consigo mesmo;

mais humilde em reconhecer sua ignorância, mas ainda assim mais habilitado a compreender

o relacionamento entre as palavras e as coisas, a raciocinar sistematicamente

sobre o Mistério insondável que ele tenta, ainda em vão, compreender."


(Aldous Huxler)

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"Sendo a crença em seres como bruxas parte tão essencial da Fé Católica,

a obstinação em manter a opinião contrária não poderá ser classificada como outra coisa

senão heresia."


(Malleus Maleficarum)

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Rosas tem espinhos e águas límpidas, lama;

e o câncer espreita no fundo do mais doce botão.

Nuvens e eclipses mancham lua e o sol,

e a História fede com os erros q cometemos.

Depois de hoje, considere que parti.

Buscar a perfeição está muito bem,

mas procurar pelo céu é viver aqui no inferno.

Depois de hoje, considere que parti.


(Sting)

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Por que temos de nos convencer que não somos humanos

quando falamos, pensamos e agimos

como qualquer ser humano faria

se fosse forçado pela necessidade

de se tornasse canibal?


(Retirado do Livro dos “Jogadores para Sabá”)

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“A alma imersa em delícias jamais será maculada.”


(William Blake - “Provérbios do Inferno” - 1790)

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Esta manhã ainda me maravilha a imagem viva e distante.

Da terrível paisagem jamais contemplada por olhos mortais.


(Charles Baudelaire - “As Flores do Mal” - 1857)

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Quando ela me sorveu dos ossos a medula

Pela noite fria e preta.

E tão languidamente a buscou minha gula

Viu o beijo de amor que nela coloquei...

Meus dois olhos fechei,

Num susto de fobia...

Que oscila ao vento


(Charles Baudelaire - “As Flores do Mal” - 1857)

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Sem cessar ao meu lado

O demônio arde em vão...

Enchendo-o de um desejo

Eterno e criminoso.


(Charles Baudelaire - “As Flores do Mal” - 1857)

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Tu que, como uma apunhalada,

Entraste em meu coração triste...

De demônios, louca surgiste...

Se te livrássemos um dia,

Teu beijo ressuscitaria

O cadáver de teu Vampiro!


(Charles Baudelaire - “As Flores do Mal” - 1857)

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Eternal Life


Durma, minha criança

Um sono longo e profundo

Nesta noite nós abraçaremos o caos

O amor que sentimos nos aquece e

Me excita

Olho dentro dos teus olhos

Me transformo no seu temor

Agarro-os como um gavião à sua vítima

Para que todos não saibam quem você é

O que eles não sabem é no que eles

Se tornarão depois de beber...


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O Anjo e o Vampiro


Ela abre seus braços selvagens

Dando Boas Vindas com seu olhar gélido e fixo

Sua forma de beijar é como uma trilha de fogo

A luz e a escuridão se chocam e

Redemoinhos se formam num lago hipnótico

Ela puxa seu amado pela escuridão adentro

Tornando-o uma ferramenta do mau

Agora veja o Anjo caído e

Como possivelmente ela se transforma

Roubando a vida e de outros a morte

Como possivelmente ela se foi uma vez antes na vida..


(Holli Hunt)

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Covardes...


Dor, foi tudo o que tive

Em meu segundo nascimento

Terror, foi tudo o que senti

Em minha vida de tormento

Agora é chegada a hora

De abandonar minha existência

Tive mais força do que nunca imaginei ter

E resisti por mais do que sonhava possível

Mas meu tempo se esgota

Outros nascem, mais fortes

E eu não posso enfrentá-los

Já não basta sucumbir às Trevas?

Ainda tenho de sucumbir a eles?

Não! Isso não!

Antes morrer por minha vontade

Do que pelas presas de um estranho...

E por mais que me chamem de covarde

Tenham uma coisa em suas mentes:

Covarde não é aquele com coragem de encarar a morte,

E sim aquele que a teme, com medo do que irá encontrar...


(Johann)

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"... e ele não duvidava que fossem estas horrendas aves, de face humana,

que assaltam os viajantes solitários, os embrulham nas suas asas felpudas,

lhe chupam o sangue. __ ...dos soldados da corte...

tinham sido devorados por estes Vampiros!"


(Eça de Queirós)

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"Que sons são ouvidos

Que cenas apareceram,

Sobre as costas sombrias!

Clarões medonhos,

Gritos desesperados,

Fogos que brilham,

Guinchos desgraçados,

Gemidos mal-humorados

Grunhidos ocos,

E gritos de fantasmas torturados!


(Virgílio - “Eneida”)

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Cruzes e Espada


Estou numa noite fria, noite negra,

sei que preciso me alimentar,

e enquanto caço, e ouço os gritos,

tento beber sem nunca pensar


Pesadelos enquanto durmo,

com as pessoas que já matei,

em nome de minha fome, o sangue.

Parar? Não acham que eu já não tentei?


Cruzes e espadas, esperando para nos matar,

em nome de um Deus Hebreu, que morreu para nos salvar,

não sei se choro, não sei se grito,

eu já não sei no que acredito,

apenas fico aqui esperando,

imerso nessa escuridão.


E eu espreitando, nessa noite escura,

que quanto mais fria, mais perdura,

esperando nessa terra insana,

caçando de noite como um animal,

esperando o fim dessa guerra,

que perdura entre o bem e o mal.


Estou, numa noite fria, noite negra,

um manto que por mais que sujo,

ele me aconchega,

pois sou o filho das trevas,

e ela é uma mãe que não me renega.


Lutando em meio desta não - vida,

esperando alguém para me salvar,

talvez a cruz e a espada,

possam com minha dor acabar.


Amaldiçôo minha existência,

maldita minha vida Imortal,

não, não peço a sua clemência,

apenas aguardo-a até o final.


(Rosangela)

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Monólogo de um Vampiro


Escura a noite por sobre minha face amanhece

Alimentando os desejos mais profundos do meu ser

Meus vasos se enchem com o gosto do prazer

Saio pelas trevas buscando os seres das preces


Sou filho da eternidade morto num caixão

Escravo do líquido alheio que me embebeda

Sou senhor das almas desbravador das eras

Vagando por muitos séculos em sangüínea solidão


Não adianta de mim fugir ou tentar se defender

Minhas presas encravadas irão ao teu pescoço

Todo teu sangue vou sugar sem nenhum esforço

Meus caninos de qualquer forma hão de te conhecer


Vôo pela escuridão adentro vagando por túmulos

Buscando corpos quentes que me alimentem

Não tenho dó, nem piedade, não sei o que sentem

Sou feito de ódio, meu corpo, minha alma, meu cúmulo


(Ferdnando Cavalcanti)

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Dança com Devas


há mais de mil anos

além das cidades

havia aldeias

cravadas nos bosques

singelas pessoas

mendigos e bruxos

erravam em bandos

em busca da fonte


e como um sonho

dançavam com devas


cansados de guerra

perdidos e aflitos

faziam fogueiras

dos paus destruídos

e o fogo sereno

luzes penumbra

trazia magia

o povo sorria


e como um sonho

dançavam com devas


bruxos e magos

em monstros alados

espalham feitiço

por todo reinado

soltam rebanhos

libertam escravos

fazem dos pobres

os seus aliados


e como um sonho

eles dançam com devas


(Sânzio)

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Morte Inerte


Pelos seus lábios escorre o sulco da vida.

Perfurando os lábios existem as presas

que proporcionam o êxtase maior.

Por trás das presas existe a vida.

E por trás da vida há morte.

Morte inerte,

corpo móvel em real mundo.

Corpo inerte em invisível mundo.


Por escuros lugares caminha o corpo

procurando encontrar uma perfeita paixão.

Já se conhece o objeto, apenas não o tem,

até que o encontra.

Pela escuridão desliga o corpo morto

em que o sangue pulsa na tensão mundana

e na procura de saciar a sede.

Na direção do objeto vivo

em vivo momento, desliza o corpo

que procura amor em líquido flamejante.

São pedras suas presas que perfuram.

São pedras o que perfura o impenetrável.

O corpo vivo geme nos braços do corpo morto.

Pelos braços do corpo morto desliza agora

o corpo que não mais vive.

O corpo recentemente morto

encontra o chão.


Na fria noite de escuros cantos

fica jogado o corpo vivo,

(agora morto)

esperando uma eterna atenção.

E o corpo morto inerte

daquele que as vidas caça

pensa em sombras que vem tocá-lo.

O corpo eterno se vira,

e olha o que deixa para trás.

Sente frio, e com esse frio,

sente o calor que é comum

àqueles que ama.


(Pablo Gobira S. Ricardo)


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