A MALDIÇÃO DE SARAH ELLEN


A história da maldição de Sarah Ellen foi revelada primeiramente durante o programa de TV Cristina Show, apresentado nos Estados Unidos, que reuniu diversos especialistas em vampirismo. Na ocasião, um dos convidados assegurou à jornalista Cristina Saralegui que John Roberts, (um homem que estava sendo comparado com o conde Drácula), teve três mulheres e uma delas, Sarah Ellen, estava enterrada em Pisco, no Peru. Na lápide do túmulo está gravada numa cruz a seguinte dedicatória: "À minha adorada esposa Sarah Ellen, nascida em 1872 e morta em 1913."

Sarah Ellen fora executada em 1913 na cidade inglesa de Blakburn e enterrada em 1917, quatro anos depois de morta, num cemitério peruano. A lenda diz que, antes de morrer, Sarah ameaçou, lançando uma maldição, voltar depois de 80 anos "reencarnada numa bonita mulher", para vingar-se dos mandantes de sua execução e da de suas irmãs Andrea e Erika, todas acusadas de assassinato, bruxaria e magia negra.

Depois de Sarah Ellen ser executada na Inglaterra, John Roberts viajou por diversos países do mundo tentando conseguir permissão para enterrar o corpo de sua esposa, mas não obteve êxito até chegar ao porto de Pisco, onde finalmente a mulher foi sepultada. Erika foi enterrada na Hungria e Andrea em algum lugar secreto do México. Jonhn Roberts desapareceu após o sepultamento de Sarah Ellen. Três meses depois da descoberta, a cidade peruana de Pisco, a 200 quilômetros do sul de Lima, ficou respirando suspense, com todo mundo aguardando a ressurreição da mulher Vampiro... A perturbação aumentou mais depois que se soube da data da ressurreição de Sarah Ellen: 9 de julho de 1993. O dia estava perto...

No início da semana marcada, a lápide, até então intacta, começou a rachar. Sinal de mau agouro. Desde então, foi uma romaria só ao túmulo 118, diante da lápide fria da sepultura de Sarah Ellen. O túmulo foi visitado por curandeiros, amantes do esoterismo, caravanas que chegavam de todas as procedências para rezar em conjunto e depositar flores para que a mulher Vampiro não saísse de sua cripta e por centenas de curiosos vindos das diversas partes do país. Câmaras de televisão foram instaladas no cemitério e por algumas semanas, a pequena cidade peruana esteve em todas as TVs do planeta. Todos esperando pela ressurreição da mulher Vampiro.

Vendedores aproveitavam a ocasião para vender tudo relativo a Vampiros. A gráfica da cidade transformou a maldição numa história em quadrinhos: "Sarah Hellen fue Nejor".

Aproveitando o interesse na opinião pública despertado em todo o país, uma editora anunciou para os próximos dias o lançamento de um livro sobre O Lado Nobre e Amoroso de Sarah Ellen. Um empresário resolveu combater o vampirismo da recessão peruana vendendo um "Kit anti-Drácula". Por dois dólares e meio levava-se manual de instruções, cruz, estaca e martelinho de legítima madeira inglesa. Ele explicou que tinha ainda um detalhe: "Toda esta madeira foi importada e não pode ter nenhum prego, nada de metal". Segundo ele, isto é muito importante, somente assim o kit anti-Vampiro poderia funcionar com eficiência.

A pequena cidade costeira de 50 mil habitantes começou a procurar avidamente proteção contra a Vampira. Em Pisco, o alho dobrou de preço durante uma semana devido a grande procura. A maioria das casas da cidade possuíam réstias de alho penduradas atrás das portas e estranhas ervas amazônicas espalhadas pelos cantos. Todo mundo sabe que Vampiro tem repelência a alho, especialmente se for alho macho, uma incrível variedade peruana que produz dentes do tamanho de uma maçã. Este alho, devido ao tamanho descomunal, produziria efeitos bem maiores. "Isso mesmo, comprem bastante alho!" Aconselhou um animado produtor de alho...

A freqüência nas igrejas cresceu repentinamente e o número de missas subiu para nove por dia. O padre Belinho, que já encomendou milhares de almas, diz que é inútil especular: "Depois de 80 anos, ou a Sarah Ellen está no céu como santa ou embaixo, no calor". O Bispo de El Callao, porto vizinho a Pisco, dom Ricardo Durand, pediu calma aos fiéis e o psicanalista Fernando Maestre advertiu para as fantasias do inconsciente.

Entretanto, em 9 de julho, a notícia foi capa dos principais jornais: El Popular, "Mulher Vampiro Deja Mensaje a Espiritista", Notícias, "Avalancha de Perledista por "Ressurecion" de Sarah Ellen", El Libertados, "Todo el Peru a la expectativa. EL 9 DE JUNIO: ¿RESSUSCITARA LA MUJER VAMPIRO ?" E outros: "Vampira Ressuscita Moy". Os jornais do resto do planeta também não deixaram de divulgar o incidente. O dia chegou...

"Vista assim do alto a pequena pisco até parece dormir em paz. Mas lá embaixo... Exorcismo, estacas, cruzes de madeira. Afinal, estamos no Peru ou na Transilvânia?" Estas foram as palavra do repórter Paulo Henrique Amorim ao introduzir uma reportagem para o Fantástico feita no próprio local.

Dezenas de pessoas de todos os lugares do mundo amontoaram-se em torno do túmulo, com destaque para um grande número de mulheres vestidas de negro e usando argolas vermelhas. Elas depositavam flores e acompanhavam com cânticos o som de violinos dos músicos contratados para o grande dia.

Também quatro curandeiros esperavam pela meia noite diante do túmulo da mulher Vampiro realizando estranhos rituais de limpeza, enquanto centenas de pessoas esperavam do lado de fora o desfecho do caso.

As autoridades aumentaram a vigilância no cemitério, principalmente em torno do túmulo de Sarah Ellen, pois não descartaram a possibilidade de profanação. A polícia tentou impedir, mas os pisqueiros e turistas pareciam hipnotizados pela Vampira, invadiram o cemitério, pisaram túmulos, derrubaram lápides...

No meio da multidão, uma figura exótica atraiu todos os microfones, tratava-se de uma auto proclamada feiticeira, jornalista e astróloga nas horas vagas, que fazia orações e jogava pétalas para o alto.
Um afoito jogou sangue na lápide que já estava enegrecendo de tanta fumaça de velas. Emissoras de rádio anunciam ao vivo do cemitério de Pisco, à zero hora local, que "a maldição não se cumpriu" , enquanto em diversas cidades do pais o caso era acompanhado com muita atenção. O público bate palmas. O coveiro, já bêbado, continua bebendo cerveja.
A luz do dia ajuda a ver melhor os estragos causados pela multidão durante a madrugada no cemitério...

Nas últimas horas, a prefeitura de Pisco decidiu decretar que 9 de julho seria o "dia do reencontro das almas pela paz" em homenagem a Sarah Ellen. E disseram que estavam decididos a entrarem em contato com as autoridades de Blackburn, para irmanar as cidades. Logo ao amanhecer, o prefeito Edgar Nunes surgiu com uma coroa de flores para depositar no túmulo de Sarah. E empolgado com o público que já invadia o cemitério novamente, o prefeito anuncia: Sarah Ellen tornou-se cidadã pisqueira, patrimônio da cidade, marco do progresso que ainda há de vir. Disse ainda que exigiria às autoridades britânicas um "desagravo" à memória de Sarah Ellen, cujo enterro não foi permitido na Inglaterra.

Uma senhora presente na ocasião exclamou que Sarah "é uma santa". Uma outra nutriu esperanças de que esta fosse a chance de ressurreição daquele lugar, onde a miséria e o desemprego atingem mais da metade da população: "Agora vão olhar para nós!" A bandinha improvisada tocava um hino religioso.

Para algumas pessoas, o fato da Vampira não ter aparecido não significa grande coisa pois Sarah Ellen poderia ter feito sua maldição em linguagem cifrada, através de um enigma. A questão é: Enquanto todos esperavam por Sarah Ellen ao lado da sepultura ela poderia estar reencarnando em algum outro lugar. Com medo desta hipótese, muitas grávidas fizeram força para que o bebê não nascesse na noite maldita. A ginecologista do hospital de pisco confirmou que o número de partos caiu para menos de um terço e a assistente social aproveitou os repórteres para pedir que doassem uma ambulância ao hospital.

A bruxa que fez o ritual no cemitério disse que ninguém deve se preocupar, pois Sarah Ellen reencarnou nela mesma só que na forma de uma Vampira boazinha.

Entretanto, os místicos afirmam que "o caso não está encerrado e que a maldição continua latente." E advertem: "Ninguém pode se sentir tranqüilo ante a ameaça de Sarah Ellen".

Hoje em dia a maioria das pessoas já se esqueceram do caso e praticamente não se fala mais sobre o assunto, mas para alguns, Sarah Ellen tornou-se parte do Folclore. Em 1998, recebi uma carta de um amigo - Ronaldo Baptista - dizendo:

"Minha namorada levou um susto quando leu o que você escreveu sobre Sarah Ellen. O pai dela era cônsul, e sua família morava na Bolívia. Em 1993, houve por lá também uma grande agitação. As crianças falavam de Sarah Ellen como numa espécie de bicho-papão. Muito interessante, porque aqui no Brasil, ninguém tomou muito conhecimento sobre o assunto".


(Shirley Massapust)

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